29 de dezembro de 2009

O sacrifício de Serra

Por Eduardo Guimarães

A RELUTÂNCIA do governador José Serra em assumir sua candidatura à Presidência não é jogo de cena nem estratégia eleitoral. O fato é que, apesar de termos passado todo esse tempo vendo manchetes sobre como ele seria eleitoralmente forte, disputar com a candidata de Lula a sucessão presidencial será quase um suicídio para o tucano.


Pode parecer surpreendente uma afirmação dessas, mas isso só porque o Brasil tem sido vítima de uma impostura estatística digna da Alemanha nazista, em termos de se enrolar o público sobre as candidaturas a presidente no ano que vem.

Essas manchetes e análises que passamos o ano lendo nas Folhas e Vejas da vida dando conta das “grandes” possibilidades de Serra se eleger presidente e decretando que a candidatura de Dilma Rousseff seria um fracasso valeram-se do fato de o tucano ser conhecido pelo eleitorado e de a candidata de Lula ser desconhecida.

Por envergar o figurino anti-Lula da vez devido à sua movimentação política de 2002 para cá, Serra já partia de uma intenção de voto consolidada por aqueles setores da sociedade que estão organizados desde 1º de janeiro de 2003 contra o atual governo.

Só um jornalista totalmente inexperiente – ou muito mal-intencionado – poderia ver qualquer tendência de não decolar eleitoralmente a pessoa escolhida por Lula para sucedê-lo, para suceder simplesmente o presidente mais popular que o Brasil já teve e com o apoio explícito e engajado deste.

A falta de lógica na premissa de que um povo fortemente satisfeito com seu governo não apoiaria a continuidade desse governo é tamanha que não consigo conceber que os experientes jornalistas de uma Globo ou de uma Folha ou de uma Veja ou de seus similares tenham sequer chegado perto de acreditar nela.

Agora, porém, as coisas começam a ficar mais claras, sobretudo porque os números que faziam insinuações já começam a gritar, aqui e ali. [Estando ainda à quase um ano do pleito, n.d.b.]

A despeito de a lógica vir dizendo faz tempo que a intenção de voto ainda majoritária de Serra não era mais do que conjuntural e tendente a ser revertida, quem vi destacando primeiro o indício mais gritante do potencial da candidatura Dilma foi o blogueiro carioca Miguel do Rosário.

Em seu blog “Óleo do Diabo”, meses atrás, Miguel chamou atenção para o fato de as intenções de voto em Dilma estarem, desde então, mostrando-se maiores nas classes sociais mais altas do que naquelas que dão maior apoio a Lula, que todos sabem que são as mais baixas.

Essa tendência passou a gritar, agora. Dilma já lidera as pesquisas espontâneas (quando o entrevistado diz o nome de seu candidato sem ser estimulado por nomes mostrados pelo entrevistador) sobre a sucessão presidencial junto às classes A e B.

Não creio que haverá muitas dúvidas sérias – e não estou me referindo àqueles que simplesmente se recusam a ver os fatos por partidarismo – de que, entre os mais pobres, quando a campanha estiver na rua Dilma tenderá a aumentar muito seu percentual de intenções de voto.

Com a expressiva queda da distância que separa Dilma de Serra nas pesquisas e sabendo-se que a maioria da sociedade, que não se interessa por política fora dos períodos eleitorais, ainda não pensou sobre a substituição de Lula, fica claro, pois, que o tucano se arriscará demais ao abrir mão de uma reeleição tranqüila em São Paulo – e governar o Estado mais rico do país não é pouco.

Por outro lado, a desistência de Serra seria fatal para a oposição de centro-direita (PSDB e DEM). O ex-PFL está praticamente morto. Desde 2002, vem se desidratando ao ponto de ter tido que mudar de nome para prolongar o processo de apodrecimento da legenda. Já o PSDB, sem um nome forte à sucessão de Lula e com a perspectiva de seus caciques do Norte e Nordeste nem se reelegerem, certamente encolheria muito.

A oposição que hoje está perdida, sem discurso e ultra-radicalizada ainda tem número no Congresso para causar problemas ao governo. Contudo, sem um cabeça-de-chapa em condições de ser o anti-Lula da vez – e, ao menos na próxima eleição, é o que será o candidato que polarizar com o PT –, nem mais isso a oposição terá.

Não sei até que ponto é bom para a democracia que um só grupo político consiga tal hegemonia, mas há que ressaltar que, se ela se concretizar, decorrerá não da ação do governo Lula e das forças que o apóiam, mas da estratégia burra e autoritária de seus adversários.

Desde a eleição de 2006, a centro-direita e seus jornais, rádios, televisões, etc, deveriam ter entendido o recado das urnas, mas se recusaram a fazê-lo. Se tivessem mais cérebro e menos fígado, os Marinhos, os Civitas, os Frias, os Mesquita, o Serra e o FHC teriam percebido que o povo lhes disse que não acreditava neles.

Foram dois anos (2005 e 2006) de noticiário massacrante e incessante em todos os meios de comunicação de massa. A mídia fez tudo que era possível e até o impossível para destruir Lula e o PT, subvertendo leis, promovendo censura do contraditório, inventando notícias etc. Ao fim de 2006, o povo foi às urnas e disse que não acreditava nessa mídia e reelegeu aquele que ela pintou como um bandido.

A partir dali é que deveria ter começado uma estratégia que só de alguns poucos meses para cá temos visto a mídia adotar, a estratégia de tentar afetar “isenção”. Hoje, por exemplo, a Folha volta a dizer que não é bom que os tucanos governem São Paulo por tanto tempo, tem o “mensalão do DEM” (só agora) e as críticas ao prefeito Gilberto Kassab, títere de Serra.

Devo dizer que mal consigo acreditar que os donos desses grandes impérios de comunicação tenham achado que ninguém notaria que eles atacavam só um lado e protegiam o outro de uma forma absolutamente suspeita, pois os erros do grupo político que o país alijou do poder em 2002 jamais foram aceitos pela mídia e os acertos inegáveis deste governo foram todos negados sistematicamente

Apesar da enorme desaprovação de FHC, a mídia continuou tecendo loas a ele e este continuou avalizando Lula como seu antípoda ao confrontá-lo ruidosamente, porque, vaidoso, não podia e não pode aceitar que seu nome fique na história como o de um mau governante enquanto um “peão” se torna um estadista para a posteridade.

Voltando, pois, ao tema central deste texto, concluo que Serra não tem mais como recuar. Terá que ir para o sacrifício disputando a eleição do ano que vem com a candidata de Lula para manter a oposição viva. Aécio Neves seria um fiasco ainda maior, em minha opinião. É um mero cacique regional que não vejo deslanchar.

Blog Cidadania.com

O pós-anti-contra-muito-antes-pelo-contrário-Lula

Comentário inicial: o que segue abaixo é algo parecido com aquilo que escreví sobre o 3º mandato para o presidente Lula em março do ano passado. Em chave jornalística bem mais profissional, é claro.

Mas, praticamente nada mudou. Aliás, só melhorou. Lula é o cara. (Carls 1969)



Por Flávio Aguiar*, em Carta Maior

Uma das chaves da propaganda anti-Dilma é a de que o cavaleiro conservador que entrar na liça não será um “anti-Lula”, mas sim um “pós-Lula”. Olhando-se para esse comportamento da nossa direita na frente externa, vê-se logo que isso é um fraseado sem pé nem cabeça.


Para a direita brasileira o fim de ano não podia ser pior, apesar de Serra se manter na frente, nas pesquisas para o Planalto. Só deu presidente Lula: prêmio Houphouët-Boigny da Unesco, título de doutor honoris causa na Universidade de Hamburgo (depois da de Lyon), personalidade do ano para o jornal El País, elogiadíssimo pelo premiê Zapatero, sucesso em Copenhague (apesar do fracasso da conferência) e para culminar, personalidade do ano para o jornal francês Le Monde.

De quebra, o chanceler Celso Amorim foi elogiadíassimo como profissional da área por seu colega espanhol, que também não regateou apalusos à política externa brasileira.


E por onde o nome de Lula ou o próprio passa, não faltam aplausos: assim foi perante a platéia de empresários em Hamburgo, em Portugal, na Grã-Bretanha, e em jornais conservadores (e sérios, do ponto de vista jornalístico), como The Economist, Financial Times, Frankfurter Allgemeine, ou progressistas, como o Süddeutschezeitung, ou até mesmo a revista Der Spiegel, conhecida por não dar moleza a políticos, seja de que lado forem.

Newsweek (EUA): Brazil, a new era.


Para Lula, só elogios. Agora, neste final de fim de ano, o britânico Financial Times nomeou Lula como uma das 50 personalidades que moldaram a última década”. Segundo o FT, Lula é o político mais popular da história do Brasil, e seu governo implementou “programas de transferência de renda baratos, mas eficientes”. E nem falamos da Ópera Olímpica do Rio de Janeiro 2016. Se Lula acabar ganhando algum Nobel da Paz, a nossa direita vai roer as unhas até os cotovelos. Mas certamente não dará o braço a torcer: vai continuar ressentida contra esse presidente que não só “não fala português direito”, como não fala “sequer uma única língua estrangeira”. Que vergonha! (para a nossa direita, é claro, por se prender a essas mesquinharias de segunda mão, já que lhe falta assunto).

Mas houve mais: perplexa, a direita brasileira viu evaporar-se seu plano de impedir a entrada da Venezuela no Mercosul; assistiu de cadeirinha à consagração de Evo Morales nas urnas de seu país, a de José Pepe Mujica, ex-tupamaro, no Uruguai. Ainda teve de encarar o fato de que a Bolívia está entre os países da América do Sul que mais crescem economicamente, o sucesso de suas políticas sociais, as do Equador, do Paraguai e as do próprio Brasil.

Restaram-lhe alguns prêmios de consolação, mas tão complicados quando reveladores do seu próprio caráter, por osmose ou metonímia (perdoem-me os palavrões; poderia dizer por contaminação ou proximidade). Um foi a enredada tibieza da política externa do governo Obama em relação à América Latina, que serviu de moeda de negociação com os republicanos em troca da liberação de nomeações diplomáticas para a região. Outro, pior ainda, foi o golpe de estado em Honduras e a leniência, para não dizer conivência ou cumplicidade, que ela apregoou em relação a ele. Outro ainda, ao apagar das luzes de 2009, foi a vitória de Piñera, o herdeiro do pinochetismo, no primeiro turno das eleições chilenas, que, ela espera, terá continuidade no segundo turno. Quer dizer: de aberto, tudo o que a nossa direita teve a exibir são compromissos com o passado de subserviência global e de práticas ditatoriais no nosso continente.

Para essa visão comprometida com o que nosso continente sempre teve de mais reacionário e oligárquico, durante o governo Lula a nossa política externa rompeu com a tradição de “pragmatismo” e enveredou por uma perigosa “politização”, embalada por compromissos ideológicos ou por “sonhos megalomaníacos”, como o de conquistar a qualquer preço uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU (esquecendo que essa é uma reivindicação brasileira desde a fundação desse organismo internacional). Para o pensamento da nossa direita, “pragmatismo” é reconhecer o golpe em Honduras, mas não as eleições (que sempre houve) na Venezuela, na Bolívia, no Paraguai, no Uruguai e por aí afora.

Ainda para essa visão: ao acolher Zelaya e ao posicionar-se frontalmente contra o golpe em Tegucigalpa, o Brasil ficou “isolado” na cena internacional. Quer dizer, para esse pensamento, o fato de a maioria esmagadora dos países da América Latina e do Caribe não terem reconhecido o golpe nada conta: só conta o fato de que o Brasil teve uma rusga (e não muito séria) com a claudicante política de Clinton/Obama para a região.

Essas questões ajudam a elucidar um aspecto do confronto eleitoral que se prepara em 2010. Uma das chaves da propaganda (já) anti-Dilma é a de que o cavaleiro conservador que entrar na liça não será um “anti-Lula”, mas sim um “pós-Lula”. Olhando-se para esse comportamento da nossa direita na frente externa e suas expectativas, vê-se logo que isso é um fraseado sem pé nem cabeça. Trata-se sim de virar a mesa no sentido anti-horário, quer dizer, anti-Lula, provocando uma regressão histórica de grande monta, assim como a assertiva de FHC de que seu governo poria fim “à era Vargas” não apontava para o futuro, como queria o ex-presidente, mas para o passado, restaurando cacoetes e o viés anti-social da República Velha ou dos Coronéis.

O mundo imaginário e sentimental em que grande parte da nossa direita vive é anacrônico, pautado por um liberalismo brasileiro à antiga, aquele liberalismo que não se liberou jamais de proteger sua condição de casta superior; que sempre preferiu entregar os dedos, as mãos inteiras, os pés e todo o corpo da nação a perder o privilégio dos seus anéis. E que vive embalada por um sonho da carochinha onde prima uma confusão dos Estados Unidos com Disneyworld e da Europa com o mundo de Sissi (que me perdoe a Romy Schneider, uma grande atriz). E por um pesadelo, para eles, chamado Brasil, povoado agora por um povão que vem se revelando difícil de manter nos antigos apriscos excludentes e currais eleitorais.

Uma última observação, quase um desvio de assunto, mas ainda assim seria “a digressão pertinente”. No elogio de Lula nas páginas do Le Monde (24/12/2009, 11h32), o jornalista Eric Fottorino, escreveu: “Desde sua criação, Le Monde, marcado pelo espírito de análise de seu fundados, Hubert Beuve-Méry, quer ser um jornal de (re)construção, também de esperança; ele veicula, à sua maneira, uma parte do positivismo de Auguste Comte, tomando como causa sua os homens de boa vontade e suas proposições”.

Quer dizer, quase 153 anos depois de sua morte (1798 – 1857), Isidore-Auguste-Marie-François-Xavier Comte, um dos avós paternos da nossa bandeira republicana, continua a ditar parte do baralho da nossa canastra política. Que a nossa direita anseia em (re)transformar no pôquer de cartas marcadas onde só os caubóis ganham. Mas isso de Auguste Comte e o Brasil do século XXI é tema para outro artigo, que virá logo. Até 2010, e deixo aqui o lema que me encanta até hoje, como saudação de fim/novo ano às leitoras e leitores que me (e nos) acompanharam até aqui: “Um por todos, todos por um”.

* Flávio Aguiar é correspondente internacional da Carta Maior.

25 de dezembro de 2009

Dona Anita e Feliz Nova Década

Fonte Vídeo: Blog do Planalto



Comentário DiAfonso:

Anita não é uma mulher qualquer. Ela é uma mulher especial. Especialíssima.

Mulher que deixa entrever uma capacidade reflexiva cuja construção se dá a partir da crueza das ruas, a partir de sua dura labuta como catadora de material reciclável.

É a sua vivência que fala mais alto e do fundo de seu coração. A sua compreensão do processo histórico é genuína, não é produzia nas universidades.

Nessa compreensão, não se evidenciam suportes teóricos oriundos dos mais diversos campos do saber, não se cita estudioso A ou B.

No "registro da realidade da vida", como Anita simplesmente verbaliza, pode se perceber que a análise sociológica, histórica e antropológica não está sobreposta, mas amalgamada. Amalgamada em sua própria vida.


A clareza com que ela se reporta a LULA e às ações de um governo voltado para as classes sociais esquecidas por governantes anteriores faz eclodir a certeza de que algo mudou neste país. Algo mudou de verdade.

Agora não existem "loucos", "mendigos" ou "lúmpen", há gente, há pessoas. É isso que Anita, em sua honesta manifestação, quer nos dizer:


"... estamos aqui num encontro de um natal com o nosso amigo Presidente. Presidente este que vê a gente como [...] nós somos: pessoas dignas, pessoas humanas que temos o mesmo caminhar, o mesmo olhar... Sabe por que gente? Porque todos nós somos seres humanos, todos nós somos frutos de uma vontade que não é nossa... [...] Ninguém nasceu do asfalto... Foram coisas que vieram acontecendo no processo da vida e, nesse processo dessa dura realidade, o que mais me magoava, quando eu me encontrava pelas ruas, eram os olhares preconceituosos... O olhar de rejeição [...] Quando a gente vê, nesse processo histórico da nossa realidade brasileira, um Presidente da República que nos enxerga como pessoas, como gente, como seres humanos... Isso é gratificante... Isso reaviva a alma [...] Olha... Eu, uma negra, população de rua, sendo abraçada pelo um presidente da república, rapaz...!

O voto ESPONTÂNEO atormenta Serra

Por Rodrigo Vianna

Ponte Otávio Frias, São Paulo: não ilumina o caminho de Serra

No domingo 20, o UOL (que pertence ao grupo "Folha") passou horas com uma manchete que parecia feita sob encomenda para o governador de São Paulo: "Serra vence Ciro e Dilma no segundo turno, diz DataFolha".

Ok. Isso é fato.

O "DataFolha" mostrou mesmo grande vantagem de Serra sobre os adversários num eventual (e ultradistante) segundo turno da eleição presidencial em 2010.


Outro fato: Serra foi editorialista da "Folha". Era tratado com carinho especial pelo velho Frias. E retribuiu, dando o nome do patriarca da "Folha" para uma ponte (foto acima, Ponte Otávio Frias de Oliveira) e um hospital em São Paulo. Carinho com carinho se paga!

Tudo isso é fato. Mas o fato mais importante a "Folha" escondeu. A dez meses da eleição, qual o número mais importante numa pesquisa? Aquele que indica a intenção espontânea de voto. Vocês prestaram atenção ao voto espontâneo no último "DataFolha"?

Talvez, não.

Até porque os números ficaram escondidos. Eu só achei no blog do Fernando Rodrigues (que, apesar de trabalhar na "Folha", não briga com os fatos)

- http://uolpolitica.blog.uol.com.br/

Aqui, o trecho em que Fernando fala sobre a pesquisa espontânea, seguido pela tabela que ele publicou em seu blog...
"(...) cumpriu-se a profecia lulista segundo a qual Dilma Rousseff seria uma candidata competitiva em dezembro de 2009 (tese sempre repelida por tucanos). Mas é agora que o jogo começa de fato. Um indício é a pesquisa espontânea do Datafolha, quando os entrevistados apenas são indagados sobre em quem desejam votar, mas sem ver os nomes dos possíveis candidatos. Em agosto, 27% respondiam que votariam em Lula (o presidente não é candidato). Hoje, o percentual de Lula caiu para 20%. Um sinal de que parte do eleitorado lulista está percebendo que a eleição está chegando –até porque o percentual espontâneo de Dilma passou de 3% para 8%, empatando com Serra:
























Volto eu.


Deixem Lula de lado, provisioriamente.

Reparem que - mesmo assim - a soma de votos em "Dilma", no "candidato do PT" e no "candidato do Lula" bate em 12%.

Serra tem 8%.

Se somarmos os votos em "Aécio" [com dúvidas!, nota deste blog] e "Alckmin", teríamos os mesmos 12%.


Serra é o líder na pesquisa estimulada. Mas na espontânea ele patina.

Tudo isso sem levar em conta que Lula hoje teria 20% dos votos!

Hoje, esse é o número que atormenta Serra.

E pode fazer com que ele desista da candidatura presidencial.

Ainda mais sabendo que, se perder para Dilma, Alckmin (ou Ciro, com apoio do PT) pode asumir (concorrer para) o governo paulista.


Seria o fim para ele.

Serra só será candidato se tiver coragem para desafiar o destino.

Pra ele, é tudo ou nada.


Os números da espontânea indicam que há grande chance de a liderança de Serra se esfarelar.

"Tudo" pode virar "nada" antes de a Copa do Mundo (2010) chegar.


Quem conhece Serra sabe que ele não é dado a correr esses riscos.

Veremos em breve.

Aécio pode ser chamado de volta em março...

E ainda há FHC, a espreitar o Brasil de algum lugar do passado. Quem sabe ele não se anima a empunhar a bandeira tucana [candidato ou vice-candidato, n.d.b.], se Serra também desistir.

Seria divertido...


Aliás, pergunta: FHC não é citado na pesquisa? Teve menos de 1%? Ou ficou embolado com Eymael ali entre os "outros"?

Escrevinhador, por Rodrigo Vianna.

5 de dezembro de 2009

Entrevista à Ciro Gomes

Candidatura a Presidência


Mas não descarta concorrer ao governo de SP


Aécio tem chances reais de vitória


Duras críticas à Serra


José Serra desiste em Março próximo

1 de novembro de 2009

FHC - A miséria de um discurso invejoso

FHC ataca o Governo Lula e teme a eleição de Dilma Rousseff

Para onde vamos?

Por
Fernando Henrique Cardoso*


(ver comentários abaixo)

A enxurrada de decisões governamentais esdrúxulas, frases presidenciais aparentemente sem sentido e muita propaganda talvez levem as pessoas de bom senso a se perguntarem: afinal, para onde vamos? Coloco o advérbio "talvez" porque alguns estão de tal modo inebriados com "o maior espetáculo da Terra", de riqueza fácil que beneficia poucos, que tenho dúvidas. Parece mais confortável fazer de conta que tudo vai bem e esquecer as transgressões cotidianas, o discricionarismo das decisões, o atropelo, se não da lei, dos bons costumes. Tornou-se habitual dizer que o governo Lula deu continuidade ao que de bom foi feito pelo governo anterior e ainda por cima melhorou muita coisa. Então, por que e para que questionar os pequenos desvios de conduta ou pequenos arranhões na lei?

Só que cada pequena transgressão, cada desvio vai se acumulando até desfigurar o original. Como dizia o famoso príncipe tresloucado, nesta loucura há método. Método que provavelmente não advém do nosso príncipe, apenas vítima, quem sabe, de apoteose verbal. Mas tudo o que o cerca possui um DNA que, mesmo sem conspiração alguma, pode levar o País, devagarzinho, quase sem que se perceba, a moldar-se a um estilo de política e a uma forma de relacionamento entre Estado, economia e sociedade que pouco têm que ver com nossos ideais democráticos.

É possível escolher ao acaso os exemplos de "pequenos assassinatos". Por que fazer o Congresso engolir, sem tempo para respirar, uma mudança na legislação do petróleo mal explicada, mal-ajambrada? Mudança que nem sequer pode ser apresentada como uma bandeira "nacionalista", pois, se o sistema atual, de concessões, fosse "entreguista", deveria ter sido banido, e não foi. Apenas se juntou a ele o sistema de partilha, sujeito a três ou quatro instâncias político-burocráticas para dificultar a vida dos empresários e cevar os facilitadores de negócios na máquina pública. Por que anunciar quem venceu a concorrência para a compra de aviões militares, se o processo de seleção não terminou? Por que tanto ruído e tanta ingerência governamental numa companhia (a Vale) que, se não é totalmente privada, possui capital misto regido pelo estatuto das empresas privadas? Por que antecipar a campanha eleitoral e, sem nenhum pudor, passear pelo Brasil à custa do Tesouro (tirando dinheiro do seu, do meu, do nosso bolso...) exibindo uma candidata claudicante? Por que, na política externa, esquecer-se de que no Irã há forças democráticas, muçulmanas inclusive, que lutam contra Ahmadinejad e fazer mesuras a quem não se preocupa com a paz ou os direitos humanos?

Pouco a pouco, por trás do que podem parecer gestos isolados e nem tão graves assim, o DNA do "autoritarismo popular" vai minando o espírito da democracia constitucional. Esta supõe regras, informação, participação, representação e deliberação consciente. Na contramão disso tudo, vamos regressando a formas políticas do tempo do autoritarismo militar, quando os "projetos de impacto" (alguns dos quais viraram "esqueletos", quer dizer, obras que deixaram penduradas no Tesouro dívidas impagáveis) animavam as empreiteiras e inflavam os corações dos ilusos: "Brasil, ame-o ou deixe-o." Em pauta temos a Transnordestina, o trem-bala, a Norte-Sul, a transposição do São Francisco e as centenas de pequenas obras do PAC, que, boas algumas, outras nem tanto, jorram aos borbotões no Orçamento e mínguam pela falta de competência operacional ou por desvios barrados pelo Tribunal de Contas da União. Não importa, no alarido da publicidade, é como se o povo já fruísse os benefícios: "Minha Casa, Minha Vida"; biodiesel de mamona, redenção da agricultura familiar; etanol para o mundo e, na voragem de novos slogans, pré-sal para todos.

Diferentemente do que ocorria com o autoritarismo militar, o atual não põe ninguém na cadeia. Mas da própria boca presidencial saem impropérios para matar moralmente empresários, políticos, jornalistas ou quem quer que seja que ouse discordar do estilo "Brasil potência". Até mesmo a apologia da bomba atômica como instrumento para que cheguemos ao Conselho de Segurança da ONU - contra a letra expressa da Constituição - vez por outra é defendida por altos funcionários, sem que se pergunte à cidadania qual o melhor rumo para o Brasil. Até porque o presidente já declarou que em matéria de objetivos estratégicos (como a compra dos caças) ele resolve sozinho. Pena que se tenha esquecido de acrescentar: "L"État c"est moi." Mas não se esqueceu de dar as razões que o levaram a tal decisão estratégica: viu que havia piratas na Somália e, portanto, precisamos de aviões de caça para defender o "nosso pré-sal". Está bem, tudo muito lógico.

Pode ser grave, mas, dirão os realistas, o tempo passa e o que fica são os resultados. Entre estes, contudo, há alguns preocupantes. Se há lógica nos despautérios, ela é uma só: a do poder sem limites. Poder presidencial com aplausos do povo, como em toda boa situação autoritária, e poder burocrático-corporativo, sem graça alguma para o povo. Este último tem método. Estado e sindicatos, Estado e movimentos sociais estão cada vez mais fundidos nos altos-fornos do Tesouro. Os partidos estão desmoralizados. Foi no "dedaço" que Lula escolheu a candidata do PT à sucessão, como faziam os presidentes mexicanos nos tempos do predomínio do PRI. Devastados os partidos, se Dilma ganhar as eleições sobrará um subperonismo (o lulismo) contagiando os dóceis fragmentos partidários, uma burocracia sindical aninhada no Estado e, como base do bloco de poder, a força dos fundos de pensão. Estes são "estrelas novas". Surgiram no firmamento, mudaram de trajetória e nossos vorazes, mas ingênuos capitalistas recebem deles o abraço da morte. Com uma ajudinha do BNDES, então, tudo fica perfeito: temos a aliança entre o Estado, os sindicatos, os fundos de pensão e os felizardos de grandes empresas que a eles se associam.

Ora, dirão (já que falei de estrelas), os fundos de pensão constituem a mola da economia moderna. É certo. Só que os nossos pertencem a funcionários de empresas públicas. Ora, nessas, o PT, que já dominava a representação dos empregados, domina agora a dos empregadores (governo). Com isso os fundos se tornaram instrumentos de poder político, não propriamente de um partido, mas do segmento sindical-corporativo que o domina. No Brasil os fundos de pensão não são apenas acionistas - com a liberdade de vender e comprar em bolsas -, mas gestores: participam dos blocos de controle ou dos conselhos de empresas privadas ou "privatizadas". Partidos fracos, sindicatos fortes, fundos de pensão convergindo com os interesses de um partido no governo e para eles atraindo sócios privados privilegiados, eis o bloco sobre o qual o subperonismo lulista se sustentará no futuro, se ganhar as eleições. Comecei com para onde vamos? Termino dizendo que é mais do que tempo de dar um basta ao continuísmo, antes que seja tarde.

* Fernando Henrique Cardoso, sociólogo, foi presidente da República

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Comentários de dois jornalistas.

Luis Nassif: "Quando os novos governadores tucanos foram eleitos, alertei: tomem o PSDB de FHC; exercitem a retórica da negociação, da civilidade. FHC só terá a oferecer a retórica vazia da guerra. Eis aí um caso clássico da miséria do discurso. Aqui, a ilustração que O Globo providenciou para o artigo de FHC, mostrando esse momento triste na carreira de um grande intelectual: liderando neocons de baixíssimo nível, levantando fantasmas anticomunistas e tendo como aliados a grosseria e a falta de sofisticação de O Globo."

Paulo Henrique Amorim: O Farol de Alexandria [FHC] subiu o tom. Rasgou a fantasia. Despiu-se do pudor que convém a ex-presidentes. Agora, ou vai ou racha. Ou os holofotes do PiG (*) se voltam para ele, ou desaparece.

O artigo que escreveu hoje no Globo e no Estadão chama o Presidente Lula de golpista, peronista, portador de um autoritarismo populista (?) e, como sempre, o considera um desqualificado.

Diz que Lula quer um “poder sem limites”. Ou seja, acusa Lula de querer ser ditador. Ele sempre fez isso, porque nunca teve a compostura de um ex-presidente da República.

Sarney, Collor e Itamar respeitaram os sucessores.

O Farol jamais engoliu o sucesso de seu sucessor.

Só que, neste domingo, depois que um aliado de Zé Pedágio decidiu jogá-lo ao mar – Roberto (quem ?) Freire disse dele no Ceará -, depois que Aécio deu um ultimato a seu rebento, o Farol caminha para a irrelevância a passos largos.

Para morrer atirando, o artigo de hoje ultrapassa as regras da etiqueta política.

As decisões de Lula são uma “enxurrada” , “esdrúxulas”, “sem sentido”. Lula criou “o maior espetáculo da Terra” – nome de um filme que, na juventude do FHC, tratava da vida num circo … -, governo “de riqueza fácil que beneficia poucos”.

Lula comete “transgressões”. “Atropela” a lei e os “bons costumes”. Por que será ? Lula tem algum filho bastardo que não se conheça ? “Desvio” (de dinheiro ?).

“Loucura”.

“Apoteose verbal”.

“Despautério”.

Um estilo que “pouco tem a ver com nossos ideais democráticos.

Que dizer que Lula vai dar o Golpe?

Autor de “pequenos assassinatos”.

A partir daí, o Farol retoma a agenda do PiG (Partido da Imprensa Golpista). Ou seja, as causas heróicas que movem as milícias de colonistas do PiG e ajudam a criar o PUM (Pensamento Único da Mídia) do PiG.

Ele defende o pré-sal para os clientes do escritório do Davizinho. Morre de saudades da Petrobrax. Defende o Roger Agnelli e os tucanos que ele emprega na Vale.

Que Lula não põe ninguém na cadeia (só falta dizer que o “Engavetador Geral da República” trabalha no Governo Lula …)

Que Lula quer a Bomba Atômica para entrar no Conselho de Segurança. Aí, FHC é mais entreguista do que normalmente parece. Como ele enterrou os planos de o Brasil ter vida nuclear autônoma, ao assinar um tratado de não proliferação, aqui, agora, o Farol quer jogar Lula na companhia do Irã, tornar o Brasil um “rogue State”, para que Lula não se sente no Conselho de Segurança da ONU.

Porque, nesse dia, FHC vai cortar os pulsos para valer…

O Farol diz que o PAC empacou. Diz que o Minha Casa Minha Vida não anda. Ou seja, repete a pauta dos editores do PiG. Ele entregou os fundos de pensão a Daniel Dantas, a quem chama de “brilhante”.

E ninguém verterá uma lágrima por ele.

18 de outubro de 2009

O egoísmo cego da elite

Por Eduardo Guimarães



Quando vejo cenas de guerra como essas que mostra o vídeo acima, contendo reportagem da Globo sobre o helicóptero da Polícia que foi abatido a tiros por traficantes no Rio de Janeiro neste sábado, o que me espanta não são as cenas ou o fato em si, mas a reflexão sobre como é possível que a elite branca não entenda que, sem progresso social, tais cenas continuarão se tornando cada vez mais comuns, e a ameaça aos que “têm”, cada vez mais intensa.

A casta social a que me refiro pode ser encontrada em retrato fiel nas novelas da Globo, por exemplo. São 90% de brancos de olhos claros e nomes europeus, os quais, em certos círculos sociais, parecem muitos, mas que não correspondem a 10% da população misturada deste país, e que, de forma absolutamente inacreditável, ficam com quase todas as vagas no ensino superior público (o de melhor qualidade no país), com as melhores oportunidades no mercado de trabalho, que ocupam os poucos bairros “nobres” das grandes cidades, que têm acesso ao melhor da Segurança Pública, das obras urbanísticas etc.

A elite racial brasileira é dona de jornais centenários, canais de televisão – transformados em propriedade eterna apesar de serem concessões públicas – e de todo o resto do grande aparato de comunicação de massa do país. Além disso, é dona das maiores empresas, ocupa os melhores empregos, domina a dramaturgia, a literatura, as ciências e tudo mais de melhor e mais avançado que o Brasil produz.

Essa concentração anômala de riqueza e de oportunidades foi o que provocou, nas massas empobrecidas, um sentimento de desesperança quanto às possibilidades do homem do povo de crescer na vida, fazendo com que jovens negros e favelados, por exemplo, declarem serenamente que preferem morrer jovens nas mãos da polícia ao cometerem crimes, contanto que tenham dinheiro para desfrutar dessa breve vida numa sociedade consumista, na qual, sem dinheiro para carros, roupas e baladas, o jovem se sente uma nulidade.

Os programas sociais de gastos vultosos e as políticas afirmativas deste governo e o próprio discurso igualitário do presidente da República têm servido como uma espécie de colchão amortecedor das tensões sociais. Sem a esperança de vencer na vida com honestidade que o Estado tem dado a essa massa empobrecida nos últimos anos, tenho certeza absoluta que a guerra civil que o vídeo acima mostra já teria sido deflagrada oficialmente – e em nível muito mais alto.

Mas o egoísmo, a vontade de ser uma casta em meio a uma ralé ignara e desqualificada profissional, cultural e intelectualmente, impede essa elite de enxergar o que está acontecendo neste país que mantém um nível de confronto social como o que se vê na reportagem sobre a derrubada do helicóptero da Polícia por traficantes no Rio.

Há, sim, o criminoso mau-caráter, aquele que não caiu na criminalidade pela pobreza e pela necessidade inclusive de sobreviver, sendo ele muitas vezes de classe média. É a mentalidade consumista, importada sobretudo dos Estados Unidos e que tanto encanta essa elite racial brasileira, o que enlouquece uma juventude que vê na posse de bens materiais o verdadeiro sentido da vida.

Todavia, ouso afirmar que a quase totalidade da “criminalidade” brasileira é oriunda da pobreza e até da miséria. Em suma, da falta de perspectiva de ascensão social por vias normais que leva legiões de jovens a buscar por qualquer meio tal ascensão, nem que seja por meio da criminalidade.

Enquanto isso, os ideólogos dessa separação por castas que exclui as massas morenas e negras das universidades, dos clubes, dos bairros etc., permitindo nesses lugares apenas amostras do biótipo predominante no país, continuam elaborando a sustentação desse estado de coisas através até da afirmação estupefaciente de que “não somos [a elite branca] racistas”, dizendo que políticas inclusivas como a de cotas para negros nas universidades seriam o que separaria uma sociedade que sempre esteve separada.

Não há nação socialmente injusta, neste nível da nossa, que conheça a paz social. Não há nação que viva essa sonegação de oportunidades a setores étnicos tão majoritários que não esteja mergulhada na violência e na criminalidade. E não há segurança para os brancos ricos em sociedades assim.

Em Julho, estive na África do Sul e pude constatar in loco a que ponto a opressão racial pode levar uma nação. Naquele país no qual a minoria branca oprimiu a maioria negra de uma forma como a minoria branca brasileira sonha oprimir a maioria negra e mestiça, os brancos ou fugiram ou vivem praticamente escondidos em bunkers. Quando têm que sair às ruas, o medo em seus rostos é quase palpável.

No Brasil, porém, a elite branca, racista e socialmente separatista continua acreditando que poderá manter a maioria negra (sobretudo os jovens) conformada em seus guetos sem ousar aspirar o sucesso e o bem estar social da casta racial dominante. Inverte os fatos e acusa políticas afirmativas como as cotas de “discriminatórias”, chama o Bolsa Família de “esmola” etc. E combate Lula com ódio apesar de ser ele quem está mantendo as belas cabeças loiras da elite unidas aos seus alvos pescoços.

4 de outubro de 2009

Os vira-latas tentam atrapalhar a festa do Rio 2016

(ver imagem abaixo)

Por Rodrigo Vianna

O complexo de vira-lata segue fortíssimo em nosso país. Se bem que, agora, parece mais restrito a setores da classe média...

Falo das estranhas reações a esse acontecimento maravilhoso: a vitória do Rio como sede das Olimpíadas de 2016.

Estava eu fora do alcance da internet - gravando uma reportagem nas proximidades de Iguape, no litoral sul de São Paulo - quando o Rio foi anunciado vencedor.

Comemorei, em mensagens enviadas por celular à minha mulher - que é carioca.
Quando cheguei a São Paulo, na noite desta sexta, também comemorei com meu filho Vicente, outro nascido no Rio de Janeiro.

Em qualquer lugar do planeta seria mesmo motivo para comemorar. Mas, no Brasil, aparecem nessas horas os corvos agourentos: e a a corrupção? e as favelas? e a violência?

Mas que diabos! Parece-me tão óbvio que Olimpíadas não são (nem nunca serão) o remédio para nossos problemas seculares, parece-me isso tão óbvio (repito!) que sinto até vergonha de precisar argumentar diante de certas coisas que comecei a ouvir e a ler, assim que botei os pés de novo em São Paulo, nesta histórica sexta-feira.

Aos poucos, fui-me lembrando das diferenças entre Rio e São Paulo. Paulistano que sou, posso dizer sem medo de errar: parte das pessoas que vivem aqui na minha terra não gosta muito do Brasil. A verdade é essa.

Acima, dois brasileiros que já superaram o complexo do vira-lata

Era esse o tom dos comentários que ouvi no rádio do carro, a caminho de casa. O locutor ia lendo os e-mails dos ouvintes, que criticavam a escolha do Rio: eram comentários mal-humorados, ranhetas, complexados.

No futebol, o brasileiro superou esse complexo de vira-lata. Nelson Rodrigues foi quem cunhou a expressão. Foi ele também quem mostrou como Pelé, com sua pose de rei, indicava a seus colegas em campo: somos fortes, somos bons, falta só acreditar em nós mesmos.

Lá pelas décadas de 50/60, com Pelé, superamos o complexo. Mas só no futebol. A síndrome do vira-lata infeliz continuou a nos abater em outras áreas...

Os mais pobres, em anos recentes, parecem ter vencido o complexo. Até porque não têm muita escolha. São brasileiros até o último fio de cabelo. Para o bem e para o mal. Melhor brigar e trabalhar pra fazer desse país uma terra um pouco melhor.

A vitória e a reeleição de Lula são a prova de que parte dos brasileiros, especialmente os de origem mais humilde, superou o complexo. É uma parcela de brasileiros que foi capaz de eleger um homem monoglota, sem estudo, e além de tudo sem um dedo (ah, como essa marca do trabalho braçal incomoda nossas elites!) para liderar o país.

Em contrapartida, a escolha - por duas vezes - de um presidente com esse perfil parece ter acirrado ainda mais o complexo de vira-lata, entre certos setores de nossa classe média. É uma parte dos brasileiros (e como são numerosos em São Paulo) que não gostam de ser brasileiros. Gostam de ser netos de italianos, bisnetos de alemães, trinetos de poloneses, tataranetos de espanhóis.

Eles se envergonham do Lula que discursa em "português" na cerimônia do comitê olímpico (ouvi um sujeito falando disso hoje na rua). Queriam que discursasse em javanês?

Eles se envergonham do Lula que chora (link). Preferiam, talvez, o tom afetado daquele outro presidente [Fernando Henrique Cardoso], que adorava fazer piadas sem graça, e preferia discursar em francês ou inglês (tremendo complexo de vira-lata) para agradar os gringos...

Com Lula, o Brasil deixou de se ver como colônia.

Os problemas do Brasil - com ou sem Olimpíadas - são enormes. Cabe a nós resolvê-los. Podemos tentar fazer as duas coisas ao mesmo tempo: cuidar de nossos problemas, e organizar as Olimpíadas. Isso parece uma obviedade sem tamanho!

Ou alguém acha - por exemplo - que um sujeito, só porque ainda está pagando as prestações da casa, não pode fazer uma bela festa de fim-de-ano para os vizinhos e os amigos?

A escolha do Rio é reconhecimento da grandeza do Brasil. Não deve nos fazer ufanistas. Mas a verdade é que merecemos comemorar. Sem dar bola para os corvos agourentos. Eles que curem seus complexos viajando para Miami nas férias. E deixem o Brasil trabalhar para fazer uma bela Olimpíada em 2016.

Parabéns ao Rio. Viva o Brasil.

3 de outubro de 2009

O Rio deve essa ao Lula


Por Leandro Fortes

Lula poderia ter agido, como muitos de seus pares na política agiriam, com rancor e desprezo pelo Rio de Janeiro, seus políticos, sua mídia, todos alegremente colocados como caixa de ressonância dos piores e mais mesquinhos interesses oriundos de um claro ódio de classe, embora mal disfarçados de oposição política. Lula poderia ter destilado fel e ter feito corpo mole contra o Rio de Janeiro, em reação, demasiada humana, à vaia que recebeu – estranha vaia, puxada por uma tropa de canalhas, reverberada em efeito manada – na abertura dos jogos panamericanos, em 2007, talvez o maior e mais bem definido ato de incivilidade de uma cidade perdida em décadas de decadência. Vaiou-se Lula, aplaudiu-se César Maia, o que basta como termo de entendimento sobre os rumos da política que se faz e se admira na antiga capital da República. Fosse um homem público qualquer, Lula faria o que mais desejavam seus adversários: deixaria o Rio à própria sorte, esmagado por uma classe política claudicante e tristemente medíocre, presa a um passado de cidade maravilhosa que só existe, nos dias de hoje, nas novelas da TV Globo ambientadas nas oníricas ruas do Leblon.

Lula poderia ter agido burocraticamente a favor do Rio, cumprido um papel formal de chefe de Estado, falado a favor da candidatura do Rio apenas porque não lhe caberia falar mal. Deixado a cidade ao gosto de seus notórios representantes da Zona Sul, esses seres apavorados que avançam sinais vermelhos para fugir da rotina de assaltos e sobressaltos sociais para, na segurança das grades de prédios e condomínios, maldizer a existência do Bolsa Família e do MST, antros simbólicos de pretos e pobres culpados, em primeira e última análise, do estado de coisas que tanto os aflige. Lula poderia ter feito do rancor um ato político, e não seria novidade, para dar uma lição a uma cidade que o expôs e ao país a um vexame internacional pensado e executado com extrema crueldade por seus piores e mais despreparados opositores.

Mas Lula não fez nada disso.

No discurso anterior à escolha do Comitê Olímpico Internacional, já visivelmente emocionado, Lula fez o que se esperava de um estadista: fez do Rio o Brasil todo, o porto belo e seguro de todos os brasileiros, a alma da nacionalidade. Foi um ato de generosidade política inesquecível e uma lição de patriotismo real com o qual, finalmente, podemos nos perfilar sem a mácula do adesismo partidário ou do fervor imbecil das patriotadas. Lula, esse mesmo Lula que setores da imprensa brasileira insistem em classificar de títere do poder chavista em Honduras, outra vez passou por cima da guerrilha editorial e da inveja pura e simples de seus adversários. Falou, como em seus melhores momentos, direto aos corações, sem concessões de linguagem e estilo, franco e direto, como líder não só da nação, mas do continente, que hoje o saúda e, certamente, o aplaude de pé.

Em 2016, o cidadão Luiz Inácio da Silva terá 71 anos. Que os cariocas desse futuro tão próximo consigam ser generosos o bastante para também aplaudi-lo na abertura das Olimpíadas do Rio, da qual, só posso imaginar, ele será convidado especial.

4 de setembro de 2009

Quem tem medo do Pré-Sal?


Por Leandro Fortes

O pré-sal trouxe um problema extra de longo prazo à oposição,
sobretudo para os tucanos, cuja sobrevivência política está cada vez mais ameaçada pela falta absoluta de um discurso capaz de se contrapor ao Palácio do Planalto. Até a descoberta das reservas de petróleo do pré-sal, ainda era possível ao PSDB e a dois de seus mais importantes satélites, DEM e PPS, enveredarem-se no varejo das guerrilhas midiáticas montadas sobre dossiês e grampos fajutos. Havia sempre a chance de desconstruir as políticas sociais do governo Lula a partir da crítica fácil (e facilmente disseminada por jornalistas amigos) ao Bolsa-Família, descrito, aqui e ali, como uma fábrica de vagabundos, de jecas tatus preguiçosos e indolentes, sem falar no estímulo à ingratidão de domésticas mais interessadas – vejam vocês! – em criar os filhos do que esquentar o corpo no fogão a troco de um salário mínimo. Agora, o espaço para esse tipo de manobra tornou-se diminuto, para não dizer irreal.

A capacidade futura de gerar recursos do pré-sal, contudo, é circunstancialmente menor que o seu atual potencial político e eleitoral, e nisso reside o desespero da oposição. Há poucos dias, o governador de São Paulo, José Serra, do PSDB, chegou ao ponto de se adiantar ao tempo e anunciar futuras mudanças no marco regulatório do pré-sal, falando como presidente eleito, a um ano das eleições. O senador Álvaro Dias, tucano do Paraná, livre de todos os escrúpulos, admitiu estar atrás de uma empresa americana do setor petrolífero para juntar munição contra a Petrobras. No Senado Federal, um dia depois do anúncio oficial do pré-sal, um grupo de senadores se revezou na tribuna para choramingar contra o projeto eleitoral embutido no evento, quando não para agourar a possibilidade de todo esse petróleo ser usado, como quer Lula, para combater a pobreza no Brasil. E é nisso, no fim das contas, que reside a tristeza tucana e de seus companheiros de infortúnio.

Manter o pré-sal sob responsabilidade exclusiva da Petrobrás, como quer o governo, confere à opção uma cor, digamos, chavista, no melhor sentido da expressão, por deixar ao arbítrio do administrador da riqueza mineral em questão o poder de utilizá-la em programas voltados para o bem estar social, principalmente, nos setores de educação e saúde. Esse poder, que na verdade é do Estado, carrega consigo um óbvio e incalculável potencial eleitoral do qual Lula, que nunca foi bobo, não irá abrir mão. Não por outra razão, ao discursar sobre o tema, em cerimônia no Palácio do Planalto, o presidente deu uma cacetada nos tucanos ao lembrar ao distinto público da sanha do PSDB, durante o governo Fernando Henrique Cardoso, em privatizar a Petrobras (chamada pelos tucanos de “último dinossauro” estatal) e rebatizá-la de Petrobrax – uma designação tida como “mais internacional” por mentes notadamente sub-colonizadas.

A perspectiva de utilização de recursos petrolíferos em programas sociais, calcada no modelo adotado por Hugo Chávez, na Venezuela, é a fonte permanente de todo o terror da direita sulamericana, inclusive a brasileira, menos pelo fator ideológico embutido na discussão, mais pelo pavor de deixar nas mãos de um adversário tal instrumento poderoso de financiamento de novas e ainda mais ousadas políticas de distribuição de renda e assistência social. O interessante é que, se tudo der certo, o auge da exploração do pré-sal se dará em 2015, um ano depois, portanto, do mandato do sucessor de Lula.

Ou seja, o desespero da oposição está projetado para uma possível reeleição da ministra Dilma Rousseff, que sequer se sabe se será eleita.

29 de agosto de 2009

A "elite" brasileira e a "negrada"

Por: http://www.castagnamaia.com.br/blog/

Sobre "elites" e "povão".

O problema é a negrada. E também os índios. E pior: o problema é a mistura, um povo preguiçoso e sem iniciativa.

II - Essa era a base do raciocínio da “elite”, da aristocracia, até a Revolução de 1930. Tivemos alguns ciclos econômicos: o da borracha, em Manaus; o do café, em São Paulo; o do cacau; o da cana, no nordeste. Ali estava o dinheiro. E ali estava a aristocracia, que não raro usava trajes pesados, europeus, neste nosso calor tropical.

III - E aí vieram idéias de “purificar” as raças. Antes disso houve Cesare Lombroso, na Itália, catalogando as gentes pela aparência física. Depois, iniciam as teorias da eugenia. A melhora pela genética. Havia raças superiores, havia raças inferiores. Era preciso esterilizar as raças inferiores.

IV - Nesse meio tempo, foi o grande Getúlio quem editou um Decreto obrigando os clubes de futebol a aceitar negros. O esporte era absolutamente elitista. E também foi Getúlio quem resolveu cadastrar as escolas de samba no Rio e aportar recursos a título subvenção. Ali o samba cresceu, ali Noel explodiu, e veio Chico Buarque, claro, como o grande herdeiro de Noel, quase sua reencarnação. Também no futebol e no samba há Getúlio Vargas.

V - Mas como podia a negrada, esse povo mestiço, desenvolver alguma coisa? E aí veio a Petrobrás. E foi ridicularizada: aqui não há petróleo, disseram as multinacionais. E havia. E veio o ITA - o Instituto Tecnológico da Aeronáutica. Um centro de excelência extraordinário, boicotado à exaustão pelo Brigadeiro Eduardo Gomes, o grande chefe da UDN, para tristeza do Brigadeiro Montenegro. E veio a PanAir, obra, também, da nossa genialidade.

VI - Nelson Rodrigues é quem apanha genialmente isso: conta a história da seleção brasileira. Nossos negrinhos e nossos misturadinhos lá, enfrentando os arianos. Não sabíamos que éramos geniais. Comportávamo-nos como vira-latas, e éramos tratados como vira-latas: a botinadas. “De nossa boca, pendia a baba elástica e bovina das humildades abjetas”, disse Nelson. E aí nos revelamos geniais no futebol.

VII - Éramos geniais no futebol, éramos geniais na música. Vários ritmos, uma criatividade explosiva. E fomos geniais na criação do ITA, e fomos geniais na criação e no desenvolvimento da Petrobrás. E fomos geniais, também, na criação do BNDE, hoje BNDES, para apoiar a indústria. E fomos geniais, também, na criação do Banco da Borracha e na criação do Banco do Nordeste do Brasil. E somos geniais até hoje: pergunte se o “chef” do restaurante francês da sua cidade não é cearense. É cearense, sim. Veja a quantidade de músicos, de cientistas brasileiros no mundo.

VIII - Mas essa mesma aristocracia que usava casacões continuava a duvidar da “negrada”, da “mestiçagem”. De um lado, a velha aristocracia latifundiária pecuarista, ou cafeicultora, ou cacaueira. De outro lado, surgia a burguesia industrial. Ali tínhamos o Conde Matarazzo. Tivemos o Senador José Ermírio de Moraes. Tivemos Mário Wallace Simonsen - não o economista, o empresário dono da PanAir.

IX - Pois ali havia um conflito: a burguesia brasileira contra a aristocracia cafeicultora, cacaueira, pecuarista, canavieira. E tivemos grandes, extraordinários empresários. mas permanecia o velho conflito. Permanecia a visão aristocrática, de casacões de lã, de que este País não daria certo, contrariamente à opinião da burguesia brasileira. Era - e é - a aristocracia contra a burguesia e o povo.

X - Digo isso porque no programa Roda Viva, aquele que entrevistou o Ministro Chefe da AGU, havia um jornalista do Estadão que, do alto da sua pretensão de vassalo da aristocracia cafeicultora, resolveu ridicularizar a questão do petróleo do pré-sal. Ridicularizou o tema. Deixou claro que nós, a negrada, a mestiçagem, não temos condições, nem inteligência, nem dinheiro, para desenvolver o pré-sal. Precisamos dos arianos, dos sangue-puro, da branquelagem.

XI - Está aí a síntese. O “complexo de vira-latas” é a evidência absoluta do racismo que persite. Não diz respeito aos brancos, tão somente. Diz respeito a nós, brasileiros. O racismo, aqui, se volta contra todo o povo, contra todos os brasileiros, até mesmo contra os que têm olhos azuis. Se dependesse dessa gente, como o sujeito do Estadão, não teríamos o ITA, a Petrobrás, a Votorantim, o grupo Matarazzo. E mais: foi Fernando Henrique que, em sua festejada obra, referia a “vocação caudatária da burguesia nacional”. Segundo ele, na sua “Teoria da Dependência”, há uma vocação da burguesia nacional para simplesmente se atrelar, de forma secundária, aos grandes grupos econômicos internacionais. Não é verdade. Essa vocação é da aristocracia rural, não da verdadeira burguesia brasileira. Aqui cito, de novo, o Conde Matarazzo, o Senador José Ermírio de Moraes, Mário Simonsen, Rubem Berta, cito Raul Randon, empresários nacionais que tiveram um papel extraordinário no desenvolvimento do Brasil. Ou seja, tivemos - e em parte temos - uma burguesia extraordinária, inovadora, industrial, que faz frente ao que há de melhor, de mais avançado, no mundo.

XII - O jornalista do Estadão nos olha de cima: os “negrinhos”, os “misturadinhos”, conseguirão explorar o pré-sal? Ora, é preciso entregar para as multinacionais. Olhe a telefonia - uma exploração cotidiana, uma extorsão brutal. Olhe a energia elétrica, também no mesmo rumo. Desde quando a Espanha foi referência em bancos? Desde quando Portugal teve tecnologia bancária para exportar? Desde quanto a Itália foi modelo de telefonia? São estrangeiros que nada acrescentaram aqui. Mas é preciso desfazer da nossa gente, da nossa tecnologia, da nossa inteligência. É preciso ridicularizar tudo. É preciso manter um ar aristocrático - europeu, na nobreza, e norte-americano, na grosseria, e esculhambar tudo o que é brasileiro. Olhe só a quantidade de pilotos de aviação civil que formamos e exportamos; olhe a quantidade de engenheiros; olhe nossos doutores que estão até mesmo na Nasa. Olhe a quantidade de brasileiros que são professores em universidades de primeira linha em outros países. É povo nosso, brasileirinho, misturadinho, formado neste nosso grande caldeirão festejado por Darci Ribeiro. Olhe Felipe Massa.

XIII - Não tenha ilusão, amigo. A mesma mentalidade que levou à quebra da PanAir, à quebra da TV Excelsior, à quebra do jornal Última Hora, à privatização da Vale do Rio Doce, é exatamente a mesma: a “negrada”, a “mestiçagem”, não sabe produzir, não sabe pensar, não trabalha porque é preguiçosa. Então vem um um golpe de cima e quebra a empresa. É o que houve com a PanAir, com a Excelsior, com a última hora. Quebra-se a empresa, boicota-se, e depois a culpa é jogada no povo brasileiro.

XIV - Foi uma grande oportunidade aquela da entrevista: ver um sujeito tão desnudo em suas opiniões: o pré-sal é ridículo; o Brasil é um País ridículo; qualquer espanhol grosseiro é mais ingeligente do que nós, qualquer norte-americano picareta é mais esperto do que nós, qualquer padeiro francês é mais criativo do que nós, qualquer nobre decadente italiano nos joga no chão. Ou seja, somos um povo rasteiro, que precisa ser conquistado. Esqueçamos o sucesso da Petrobrás, da Vale, da Matarazzo, do ITA, da siderurgia que criamos. Esqueçamos o pró-alcool, nossos cientistas. Esqueçamos tudo.

XV - O que há por detrás disso, amigo, é o velho racismo dos “carcomidos”, como eram chamados os defensores da República Velha, ou seja, dos que foram derrubados por Getúlio em 30. O sujeito do Estadão apenas verbalizou isso, do alto da autoridade de representante do jornal que combateu Getúlio, do representante da aristocracia cafeicultora, e que depois apoiou o golpe de 64.

XVI - Enfim, é isso: na visão deles, nós, a negrada, a mestiçagem, não conseguiremos fazer nada. E precisamos ser tutelados por consultores picaretas norte-americanos, padeiros franceses, comerciantes espanhóis, técnicos em mecânica alemães, nobres decadentes italianos e afetados almofadinhas ingleses. Basta ser estrangeiro que é bem vindo e é superior a nós. E esse pessoal servil será festejado por gente igual a esse jornalista que buscou ridicularizar a questão do petróleo do pré-sal. E esse pessoal servil será contratado por essa gente, receberá anúncios dessa gente, será consultor dessa gente, será convidado a fazer visitas “culturais” àqueles países, com tudo pago.

XVII - Amigo, é tudo a mesma mentalidade: o Brasil não pode ser grande, embora seja. Tudo deve ser esculhambado, tudo deve ser aviltado, tudo deve ser difamado. Isso diz respeito à PanAir, à Varig, ao petróleo do Pré-Sal, à Excelsior, ao Pró-Álcool. É a mesma matriz de pensamento, a que busca nos subjugar, nos aviltar, nos humilhar. É que a diz que trabalhador é preguiçoso, que aposentado é vagabundo e já ganha demais. A discussão de uma grande companha aérea internacional está aí. A discussão da tecnologia brasileira está aí: ou a mestiçagem que precisa ser tutelada, ou a grandeza, a genialidade, a alegria da nossa raça brasileira. Escolha.

15 de agosto de 2009

Somos Racistas

Por Landro Fortes

(veja vídeo abaixo)

Enquanto interessava às elites brasileiras que a negrada se esfolasse nos canaviais e, tempos depois, fosse relegada ao elevador de serviço, o conceito de raça era, por assim dizer, claríssimo no Brasil. Tudo que era ruim, cafona, sujo ou desbocado era “coisa de preto”. Nos anos 1970 e 1980, na Bahia, quando eu era menino grande, as mulheres negras só entravam nos clubes sociais de Salvador caso se sujeitassem a usar uniforme de babá. Duvido que isso tenha mudado muito por lá. Na cidade mais negra do país, na faculdade onde me formei, pública e federal, era possível contar a quantidade de estudantes e professores negros na palma de uma única mão.

Pois bem, bastou o governo Lula arriscar-se numa política de ações afirmativas para a high society tupiniquim berrar para o mundo que no Brasil não há racismo, a escrever que não somos racistas. Pior: a dizer que no Brasil, na verdade, não há negros.

Antes de continuar, é preciso dizer que muita gente boa, e de boa fé, acha que cota de negros nas universidades é um equívoco político e uma disfunção de política pública de inserção social. O melhor seria, dizem, que as cotas fossem para pobres de todas as raças. Bom, primeiro vamos combinar o seguinte: isso é uma falácia que os de boa fé replicam baseados num raciocínio perigosamente simplista. Na outra ponta, é um discurso adotado por quem tem vergonha de ter o próprio racismo exposto e colocado em discussão. Ninguém vê isso escrito em lugar nenhum, mas duvido que não tenha ouvido falar – no trabalho, na rua, em casa ou em mesas de bares – da tese do perigo do rebaixamento do nível acadêmico por conta da presença dos negros nos redutos antes destinados quase que exclusivamente aos brancos da classe média para cima – paradoxalmente, os bancos das universidades públicas.

Há duas razões essenciais que me fazem apoiar, sem restrições, as cotas exclusivamente para negros. A primeira delas, e mais simples de ser defendida, é a de que há um resgate histórico, sim, a ser feito em relação aos quatro milhões de negros escravizados no Brasil, entre os séculos XVI e XIX, e seus descendentes. A escravidão gerou um trauma social jamais sequer tocado pelo poder público, até que veio essa decisão, do governo do PT, de lançar mão de ações afirmativas relacionadas à questão racial brasileira – que existe e é seríssima. Essa preocupação tardia das elites e dos “formadores de opinião” (que não formam nada, muito menos opinião) com os pobres, justamente quando são os negros a entrar nas faculdades (e lá estão a tirar boas notas) é mais um traço da boçalidade com a qual os crimes sociais são minimizados pela hipocrisia nativa. Até porque há um outro programa de inserção universitária, o Prouni, que cumpre rigorosamente essa função. O que incomoda a essa gente não é a questão da pobreza, mas da negritude. Há contra os negros brasileiros um preconceito social, econômico, político e estético nunca superado. O sistema de cotas foi a primeira ação do Estado a enfrentar, de fato, essa situação. Por isso incomoda tanto.

Em tempo: o leitor Antonio Carlos Bicarato me passou o link de um quadro da antiga (e sensacional) TV Pirata que ilustra com perfeição esse conflito racial mal escondido do Brasil. Como bem refletiu Bicarato, alguém consegue imaginar uma coisa assim, hoje, nessa péssima e politicamente correta tevê aberta brasileira?


19 de julho de 2009

O último suspiro de Serra


Por Luis Nassif

Entenda melhor o que está por trás dessa escalada de CPIs, escândalos e tapiocas da mídia.


A candidatura José Serra naufragou. Seus eleitores ainda não sabem, seus aliados desconfiam, Serra está quase convencido, mas naufragou.

Política e economia têm pontos em comum. Algumas forças determinam o rumo do processo, que ganha uma dinâmica que a maioria das pessoas demora em perceber. Depois, torna-se quase impossível reverter, a não ser por alguma hecatombe - um grande escândalo.

O início da derrocada de Serra ocorreu simultaneamente com sua posse como novo governador de São Paulo. Oportunamente abordarei as razões desse fracasso.

Basicamente:

1. O estilo autoritário-centralizador e a falta de punch para a gestão. O Serra do Ministério da Saúde cedeu lugar a um político vazio, obcecado com a política rasteira. Seu tempo é utilizado para planejar maldades, utilizar a mão-de-gato para atingir adversários, jornalistas atacando colegas e adversários e sua tropa de choque atuando permanentemente para desestabilizar o governo.

2. Fechou-se a qualquer demanda da sociedade, de empresários, trabalhadores ou movimentos sociais.

3. Trocou programas e ideias pelo modo tradicional de fazer política: grandes gastos publicitários, obras viárias, intervenções suspeitíssimas no zoneamento municipal (comandado por Andrea Matarazzo), personalismo absurdo, a ponto de esconder o trabalho individual de cada secretário, uso de verbas da educação para agradar jornais. Ao contrário de Franco Montoro, apesar de ter alguns pesos-pesados em seu secretariado, só Serra aparece. Em vez de um estado-maior, passou a comandar um exército de cabos e sargentos em que só o general pode se pronunciar.

4. Abandonando qualquer veleidade de inovar na gestão, qual a marca de Serra? Perdeu a de bom gestor, perdeu a do sujeito aberto ao contato com linhas de pensamento diversas (que consolidou na Saúde), firmou a de um autoritário ameaçador (vide as pressões constantes sobre qualquer jornalista que ouse lhe fazer uma crítica).

5. No meio empresarial (indústria, construção civil), perdeu boa parte da base de apoio. O mercado o encara com um pé atrás. Setores industriais conseguem portas abertas para dialogar no governo federal, mas não são sequer recebidos no estadual. Há uma expectativa latente de guerra permanente com os movimentos sociais. Sobraram, para sua base de apoio, a mídia velha e alguns grandes grupos empresariais de São Paulo - mas que também (os grupos) vêem a candidatura Dilma Rousseff com bons olhos.


A Rede de Interesses

O PSDB já sabe que o único candidato capaz de surpreender na campanha é Aécio Neves. Deixou marca de boa gestão, mostrou espírito conciliador, tem-se apresentado como continuidade aprimorada do governo Lula - não como um governo de ruptura, imagem que pegou em Serra.

Será bem sucedido? Provavelmente não. Entre a herança autêntica de Lula - Dilma - e o genérico - Aécio - o eleitor ficará com o autêntico. Além disso, se Serra se tornou uma incógnita em relação ao financismo da economia, Aécio é uma certeza: com ele, voltaria com tudo o estilo Malan-Armínio de política econômica, momentaneamente derrotado pela crise global. Mas, em caso de qualquer desgaste maior da candidatura oficial, quem tem muito mais probabilidade de se beneficiar é Aécio, que representa o novo, não Serra, que passou a encarnar o velho.

Acontece que Serra tem três trunfos que estão amarrando o PSDB ao abraço de afogado com ele.

O primeiro, caixa fornida para bancar campanhas de aliados. O segundo, o controle da Executiva do partido. O terceiro, o apoio (até agora irrestrito) da mídia, que sonha com o salvador que, eleito, barrará a entrada de novos competidores no mercado.

Se desiste da candidatura, todos os que passaram a orbitar em torno dele terão trabalho redobrado para se recolocarem ante outro candidato. Os que deram apoio de primeira hora sempre terão a preferência.

Fica-se, então, nessa, de apelar para os escândalos como último recurso capaz de inverter a dinâmica descendente de sua candidatura. E aí sobressai o pior de Serra.


Ressucitando o Caso Lunus

Em 2002, por exemplo, a candidatura Roseana Sarney estava ganhando essa dinâmica de crescimento. Ganhara a simpatia da mídia, o mercado ainda não confiava em Serra. Mas não tinha consistência. Não havia uma base orgânica garantindo-a junto à mídia e ao eleitorado do centro-sul. E havia a herança Sarney.

Serra acionou, então, o Delegado Federal Marcelo Itagiba, procuradores de sua confiança no episódio que ficou conhecido como Caso Lunus - um flagrante sobre contribuições de campanha, fartamente divulgado pelo Jornal Nacional. Matou a candidatura Roseana. Ficou com a imagem de um chefe de KGB.

A dinâmica atual da candidatura Dilma Rousseff é muito mais sólida que a de Roseana.

1. É apoiada pelo mais popular presidente da história moderna do país.

2. Fixou imagem de boa gestora. Conquistou diversos setores empresariais colocando-se à disposição para conversas e soluções. O Plano Habitacional saiu dessas conversas.

3. Dilma avança sobre as bases empresariais de Serra, e Serra se indispôs com todos os movimentos sociais por seu estilo autoritário.

4. Grande parte dessa loucura midiática de pretender desestabilizar o governo se deve ao receio de que Dilma não tenha o mesmo comportamento pacífico de Lula quando atacada. Mas ela tem acenado para a mídia, mostrando-se disposta a uma convivência pacífica. Não se sabe até que ponto será bem sucedida, mas mostrou jogo de cintura. Já Serra, embora tenha fechado com os proprietários de grupos de mídia, tem assustado cada vez mais com sua obsessão em pedir a cabeça de jornalistas, retaliar, responder agressivamente a qualquer crítica, por mais amena que seja. Se já tinha pendores autoritários, o exercício da governança de São Paulo mexeu definitivamente com sua cabeça. No poder, não terá a bonomia de FHC ou de Lula para encarar qualquer crítica da mídia ou de outros setores da economia.

5. A grande aposta de Serra - o agravamento da crise - não se confirmou. 2010 promete ser um ano de crescimento razoável.

Com esse quadro desfavorável, decidiu-se apertar o botão vermelho da CPI da Petrobrás.

O Caso Petrobras

Com a CPI da Petrobras todos perderão, especialmente a empresa. Há um vasto acervo de escândalos escondidos do governo FHC, da passagem de Joel Rennó na presidência, aos gastos de marketing especialmente no período final do governo FHC.

Todos esses fatos foram escondidos devido ao acordo celebrado entre FHC e José Dirceu, visando garantir a governabilidade para Lula no início de seu governo. A um escândalo, real ou imaginário, aqui se devolverá um escândalo lá. A mídia perdeu o monopólio da escandalização. Até que grau de fervura ambos os lados suportarão? Lá sei eu.

O que dá para prever é que essa guerra poderá impor perdas para o governo; mas não haverá a menor possibilidade de Serra se beneficiar. Apenas consolidará a convicção de que, com ele presidente, se terá um país conflagrado.

Dependendo da CPI da Petrobras, aguarde nos próximos meses uma virada gradual da mídia e de seus aliados em direção a Aécio.

Fonte: http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/2009/07/19/o-ultimo-suspiro-de-serra/