28 de março de 2010

Lula e os tablóides de assalto

Por Mino Carta



A transparente satisfação com que a mídia nativa celebrou os últimos movimentos do governador José Serra, tomados como prova de uma candidatura de fato já encaminhada, mostra, redondamente, o lado escolhido pelos barões midiáticos. Como sempre, o lado contrário a Lula. No caso, em oposição à candidata do presidente.

Não é novidade. A mídia nativa não engole um ex-operário que se torna inquilino do Palácio do Planalto, cenário quem sabe talhado em definitivo para bacharéis engravatados, quando não generais de quatro estrelas. Ódio de classe? Misturado com a inextinguível suspeita de que Lula acabe por cair em tentação e reedite ideias e ideais do PT de 1980.

Rota traçada desde 1989, quando foi inventado o “caçador de marajás” para impedir a ascensão do Sapo Barbudo. Nem se fale da euforia provocada pela descoberta de um Fernando Henrique rei dos economistas, além de príncipe dos sociólogos, prontamente apresentado como criador da estabilidade. E esta foi também a bandeira da campanha do segundo mandato, embora arreada 12 dias depois da posse.

Surpresa em 2002: Lula derrotou com ótima margem o ex-ministro José Serra, a despeito de sua badaladíssima gestão na pasta da Saúde, quando o mundo mais uma vez curvou-se diante do Brasil. Não bastou insistir na ideia de que Serra era “preparado”, a significar que o outro era irremediavelmente despreparado.

A mídia não percebeu então que seu poder de fogo diminuíra bastante e perseverou na linha contrária ao governo, crivado por críticas ferozes, ataques sem conta, acusações retumbantes, até o chamado “mensalão”, que não foi provado nos termos apontados pelo jornalismo pátrio. Mais significativa e consistente do que a anterior, a vitória de Lula em 2006. Nem por isso, a mídia aproveitou a lição.

Repito o que foi dito em outras oportunidades neste espaço: a eleição de Lula é um divisor de águas na história brasileira. Pela primeira vez, a maioria dos brasileiros apreciou votar naquele com quem se identificava, um igual, em lugar de um senhor enfatiotado, recomendado por seus pares. E, pelo caminho, a maioria convenceu-se que valeu a pena.

Quem não se convenceu foi a mídia. A imprensa, de que muito poucos a leem. A eletrônica, que só vale quando transmite novela, big brothers e faustões. Nesta aposta em si própria, não saiu da velha rota. Diariamente, basta passar os olhos pelas páginas dos jornais que alguns teimam em chamar de “grande imprensa”, para tropeçar em editoriais, artigos, colunas e reportagens destinados a demonizar Lula e condenar seu governo.



Quarta-feira 24, ao falar em Brasília no quadro do programa Territórios da Cidadania, o presidente da República disse: “Fico imaginando daqui a 30 anos, quando alguém quiser fazer uma pesquisa sobre a história do Brasil e sobre o governo Lula e tiver de ficar lendo determinados tabloides. Ou seja, este estudante vai estudar uma grande mentira”.

Haverá quem queira discutir a qualidade do texto, a forma. O conteúdo, no entanto, é claríssimo e não admite dúvidas. Se o pesquisador-estudante se contentar com a leitura dos “tabloides”, ou seja, dos órgãos da nossa imprensa, aprenderá uma história desfigurada por erros e omissões. E mentiras.

Quanto à CartaCapital, nos esforçamos para praticar o jornalismo honesto, na contramão da hipocrisia de quem afirma isenção, equidistância, independência, imparcialidade, enquanto se entrega a formas diversas, porém afinadas, de propaganda partidária. Em busca da verdade factual, criticamos Lula e seu governo ora de maneira positiva, ora negativa. Há duas semanas, entendemos como passo em falso as declarações do presidente a respeito dos presos políticos cubanos. Na semana passada, renovamos nossa reprovação a quaisquer interferências governistas para limitar a liberdade de expressão.

CartaCapital orgulha-se de remar na contracorrente, mesmo quando entende que o governo em seus dois mandatos poderia ter feito muito mais no plano social, ou reputa deslize gravíssimo, a provar prepotência e ignorância, o comportamento em relação ao Caso Battisti. No mais, a entrada de Serra na liça vale para iluminar a ribalta.

Não se trata de valorizar a demanda de muitos tucanos, favoráveis a uma definição rápida, mesmo porque compreendemos a estratégia do pré-candidato, baseada na tentativa de escapar ao embate plebiscitário à procura do confronto direto com a candidatura Dilma. Deste ângulo, tem de ser encarado o nítido empenho tucano em manter Fernando Henrique longe da campanha. Mas não será fácil sair do círculo traçado por Lula em torno do pleito.

24 de março de 2010

O preconceito serrista contra Lula e Dilma, a mulher


Do Conversa Afiada

O Lula não é candidato, eu e Dilma é que somos”.

“Acho que a população vai escolher em função de como são os candidatos, porque o Brasil está decidindo (sic) o seu futuro”.

José Serra, ao lançar oficialmente a candidatura no programa do Datena.

No segundo turno das eleições de 2002, quando já se desenhava a vitória esmagadora de Lula (foi de 61% a 39%, que se repetiu com Alckmin) o PiG (*) avançou para cima da opinião pública com a necessidade de um debate.

Um debate.

Um cara-a-cara, em que Serra demonstrasse, só ele no ringue com o nordestino metalúrgico, que era o melhor.

FHC, Nizan Guanaes e todos os colonistas (**) do PiG(*): queremos um debate.

Foi o que se viu.

Lula cozinhou o debate.

Esperou até a última hora.

Houve o debate em cima da eleição e o Serra mostrou o que é: um pseudo-economista (ele só entende (?) de economia), pseudo-competente.

Depois, veio a desculpa para a esmagadora derrota.

É que o Lula se comunica bem – dizia o Farol de Alexandria, naquela combinação cinza-azulada de empáfia com inveja.

Ou seja, o Lula é um parvo, mas se comunica bem.

Era a tese do “debate”.

Se fosse obrigado a enfrentar um intelectual do porte do Serra, ele se esborracharia.

Atribuir o sucesso do Lula e a qualidade seu Governo – clique aqui para ver o que ele faz com o dinheiro dos tributos – a “se comunicar bem” é reduzir um fenômeno político à irrelevância de um fenômeno da televisão.

É confundir Chacrinha com Getúlio – os dois tinham pança …

Agora, o preconceito muda de gênero.

O Serra quer partir para cima da Dilma, a mulher.

Ele acha que o eleitor vai se esquecer do Lula.

Na hora em lançou oficialmente a candidatura – e não podia ser mais apropriado do que lançar no programa do Datena – o “economista competente” acha que o eleitor apagou o Lula da memória.

O Lula e o FHC.

E vai se esquecer que, como disse o Ciro, ele é “filhote do FHC”.

Assim, tão rápido quanto uma vinheta da Globo, o povão vai depositar o Lula num escaninho remoto da memória.

E aí ele vai poder destroçar a mulher.

Ou ele acha que a Dilma não pode ir para cima dele, no pau-a-pau ?

Quem disse que a experiência administrativa dele é superior à da Dilma ?

O que o Serra fez ?

O genérico ?

É do Itamar.

A campanha contra a AIDS ?

É do Itamar.

O Plano Real ?

É do Itamar.

E a ambulância super-faturada ?

Não, isso é do Serra.

E o Flavio Bierrembach ?

Não, isso é do Serra.

E a venda da Vale ? – o FHC diz que ele, Serra, era quem mais queria vender.

E o alagão do Jardim Romano, essa obra prima do Urbanismo contemporâneo ?

E os piscinões ?

E o metrô que atrasou ? (clique aqui para ler )

E a greve dos professores ?

E a dos funcionários da saúde ?

Quem paga os PSDB – os Piores Salários Do Brasil ?

A Dilma vai para cima dele com o PAC.

Com a falta de apagão.

Lembra do apagão do governo em que Serra era o Grande Planejador, aquele apagão que custou três pontos percentuais do PIB ?

Vai para cima dele com o PAC.

Ou o PiG(*) acha que vai desmanchar o PAC nas manchetes ?

O povão VÊ o PAC.

O povão vai tomar o teleférico do Morro do Alemão.

O povão compra casa no Minha Casa Minha Vida (clique aqui para ver o que aconteceu com crédito imobiliário )

O povão vê a transposição do Rio São Francisco.

O povão comprou carro.

Não adianta o Ali Kamel dizer que o PAC empacou.

Antes, o preconceito dos tucanos era contra um nordestino pobre.

Agora é contra uma mulher.

Esses tucanos vão longe.

Bater em mulher em público …

Essas meditações se inspiraram no e-mail do amigo navegante Gustavo Barcellos.

O preconceito tucano contra os brasileiros


Por Paulo Henrique Amorim


Zé Pedágio (José Serra), o Eterno Futuro Presidente, já defendeu essa idéia.

. A matriz é o Farol de Alexandria (FHC), aquele que iluminava a Antiguidade e desapareceu num terremoto.

. Qual é a idéia ?


. Os tucanos (especialmente os de São Paulo (*)) são os melhores, os mais bem preparados, os que leram os livros certos, os que sabem das coisas, os que usam a roupa certa, que falam francês, que sabem usar os talheres, que são cheirosos.

. Eles são os “engomados”, como se dizia no México, os “engenheiros”, ou, hoje, os “economistas”.

. Eles é que são competentes.

. Como Serra, que se diz “economista competente”, embora não seja nem um nem outro.

. No Governo, eles são de uma eficiência sem igual.

. O problema é que, às vezes, o povo não percebe isso.

. De quem é a culpa ?

. Primeiro, do povo, uns ignorantes: mas os tucanos (especialmente os de São Paulo (*)) não podem dizer isso em voz alta.

. Então, eles dizem, num gesto de invulgar humildade, que a culpa é deles mesmos, que não sabem se “comunicar”.

. O mesmo raciocínio se completa com a idéia de que Lula sabe se “comunicar”.

. E que é por isso que ele ganha as eleições (passadas e futuras).

. Simplesmente, porque ele sabe se “comunicar”.

. Porque ele fala ao povo ignorante, que não percebe as virtudes incomparáveis dos tucanos.

. É esse pessoal do Bolsa Família, do aumento real do salário mínimo, do Pro-Uni, do Crédito Consignado, do Minha Casa, Minha Vida, do Luz para Todos – os beneficiários do assistencialismo populista, entregue por um “comunicador” excepcional.

. Essa a desvantagem dos tucanos – eles dizem.

. O “outro” se “comunica”.

. Qual é o preconceito atrás disso ?

. Primeiro, o Lula não tem mensagem, só tem meio.

. Não tem conteúdo, só tem forma.

. E os tucanos paulistas, prenhes de idéias e conteúdo genial não conseguem botar tudo isso para fora, porque não se comunicam, porque não são populistas, demagogos – como o “outro”.

. O segundo preconceito atrás dessa idéia é que o povo é um conjunto de néscios, que não sabe distinguir seus interesses ou quem os defenda.

. E vai na lábia, no trololó do “comunicador”.
¦lt;br /> . O povo é otário.

. Ou, como dizia o pai de Zé Pedágio e do Farol, o Brigadeiro Eduardo Gomes, outro Eterno Futuro Presidente: são uns “marmiteiros”.

. Vamos supor, amigo navegante, que os tucanos se “comuniquem” e as idéias do partido sejam “comunicadas” por Jô Soares, Ana Maria Braga, Regina Duarte, Miriam Leitão, William Bonner e Waack, Lucia Hippolito – os mestres da “comunicação”.

. Em lugar das olheiras e das gengivas intermináveis do Zé Pedágio, as olheiras do William Waack.

. Em lugar dos períodos longos e insondáveis do Farol de Alexandria, o português escorreito e direto da Miriam Leitão.

. Qual seria o resultado ?

. Nenhum.

. Sabe por que, amigo navegante ?

. O problema dos tucanos não é a “comunicação”, a forma.

. O problema deles é o conteúdo.

. Porque os tucanos não tem uma única idéia a “comunicar”.

16 de março de 2010

A guerra política sem quartel


Por Luis Nassif

No dia 29 de dezembro passado recebi e-mail de um leitor, com informações sobre a guerra política a ser deflagrada este ano pela Internet.

Segurei as informações que me foram passadas, até ter uma ideia mais clara sobre os desdobramentos e conferir se as informações se confirmariam. Aparentemente estão se confirmando.

No final do ano passado, a FSB – empresa de assessoria de comunicações – foi incumbida pelo governador José Serra de preparar a guerra política na Internet, especificamente nas redes sociais. A empresa tem um contrato formal com a Sabesp e, aparentemente, outro com a Secretaria de Comunicação. Pensou-se em um terceiro contrato, com o Centro Paula Souza. Debaixo desses contratos, encomendou-se o trabalho.

Houve reunião em Brasília e a coordenação foi entregue ao jornalista Gustavo Krieger.

A primeira avaliação foi a de que a campanha anterior, pela Internet, tinha sido muito rancorosa e afastado o eleitorado. A nova estratégia consistiria em desviar os ataques para blogs críticos de Serra. Inicialmente, definiram-se quatro blogs: este, o do Paulo Henrique Amorim, o do Azenha e o da Maria Frô. Pessoas que tiveram acesso às informações da reunião não conheciam o da Maria Frô e estranharam sua inclusão. Mas quem incluiu conhecia.

Indaguei se, eventualmente, não poderia ser um monitoramento das análises, para se produzir argumentos contrários. Mas a fonte me garantiu que a ideia seria preparar ataques contra os quatro blogs através de um conjunto de blogueiros e twitteiros arregimentados na blogosfera: os «mercenários», como a fonte os definia.

O trabalho preliminar teria doze pessoas de escritórios de diferentes lugares do país. Durante o ano, a equipe seria enxugada, mas seriam mantidas cinco pessoas permanentemente dedicando-se à ofensiva contra esses blogs e outros que estavam em fase de avaliação. Haveria também a assessoria do ex-chefe de gabinete da Soninha – que está sendo processado por montar sites apócrifos injuriosos – e que se tornou o twitteiro de Serra.

Coloco a nota “em observação” porque, antes, busquei informações sobre Krieger e recebi avaliações positivas dele. Fica a ressalva.

Mas movimentações recentes em Twitters e Blogs indicam uma grande coincidência com o que me foi relatado. Especialmente o fato de parte relevante dos ataques contra os demais blogs estarem sendo produzidas justamente pelo assessor de Serra.

Lembro o seguinte: uma hora a guerra acaba. Passadas as eleições, os comandantes ensarilharão as armas e celebrarão a paz. Sobrará para os guerreiros contratados, que poderão ter sua imagem manchada indelevelmente. E, especialmente, para quem trabalha com comunicação corporativa.

PS: O Viomundo sente-se honradíssimo de figurar na lista dos blogs e sites a serem atacados.

É guerra ao PT!!

Discurso do deputado Emiliano José (PT-BA)
sobre ataques do Partido da Imprensa Golpista ao PT


O SR. EMILIANO JOSÉ (PT-BA. Pronuncia o seguinte discurso.)

- Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, do caldeirão fumegante do Partido da Imprensa Golpista pode sair de tudo, menos qualquer receita que seja de defesa do povo brasileiro. Novamente, mais uma vez, o PIG sai a campo com todo furor para atacar o PT e o governo Lula e a pré-candidata do PT, ministra Dilma Rousseff. O PIG não descansa. Sua luta contra o governo Lula, contra o presidente Lula, contra o PT, contra as forças democráticas, é incansável. Isso ninguém pode negar.


O PIG se dedica à luta contra quaisquer governos progressistas porque sempre foi a favor de privilégios, nunca gostou dos desvalidos, não aceita políticas públicas que beneficiem os mais pobres. E por isso não aceita o governo Lula, não aceita o presidente operário, não aceitou Vargas, não aceitou Goulart. Com propriedade, essa imprensa hegemônica, sustentada em algumas famílias, é chamada de Partido da Imprensa Golpista, porque sempre se perfila ao lado do golpe e contra as instituições democráticas, fingindo-se de defensora das liberdades em geral e da liberdade de imprensa em geral.

Quando falei em caldeirão fumegante, não o fiz apenas como exercício retórico. Faço-o pela simples razão de que o Partido da Imprensa Golpista tem trabalhado bastante na cozinha, como falamos quando nos referimos à retaguarda do jornalismo, e o pior é que, na cozinha, só trabalha ultimamente com temas requentados. E isso não lhe importa. O escândalo que ela quer construir, quando quer construir, não precisa ter o chamado fato novo, aspecto essencial do jornalismo quando levado a sério. Retira-se um fato de anos anteriores, coloca-se um título chamativo, e cá estamos nós com um novo escândalo, mesmo que tudo já tenha sido noticiado anteriormente, mesmo que não exista nada comprovado.

A revista Veja, hoje um arsenal ideológico de extrema-direita, articulado com os setores de imprensa mais reacionários do Continente, foi buscar os ingredientes de um assunto antigo, teve a solidariedade de um promotor que assaca permanentemente contra o PT, colocou tudo no caldeirão fumegante, e o título dá conta do resto. Bastou que o ex-presidente da Cooperativa Habitacional dos Bancários, João Vaccari Neto assumisse a tesouraria do PT para que a cozinha da Veja entrasse em ação. O mesmo promotor, José Carlos Blat, do Ministério Público de São Paulo, figura já conhecida por sua posição política, já havia feito a denúncia em 2006, a requenta agora, e a mídia e a oposição se encarregam do resto.

Essa investida de agora foi tão escandalosa, tão obscena, tão sob encomenda, que o juiz que recebeu a denúncia do Sr. José Carlos Blat desnudou-a, evidenciando os seus vícios e denunciando o seu evidente partidarismo.

O juiz Carlos Eduardo Lora Franco não aceitou o bloqueio das contas da Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo (Bancoop), nem a quebra dos sigilos bancário e fiscal do ex-presidente da cooperativa e atual secretário de Finanças do PT, João Vaccari Neto. Não pode haver manipulação política, não deve haver manipulação da opinião pública e não devem ocorrer acusações sem provas, como de alguma forma foi ditopelo juiz, tudo que aparece na denúncia superpartidarizada do promotor Blat, uzeiro e vezeiro nessas práticas, personagem por demais conhecido.

Tudo sob medida, uma velha receita, perseguida desde sempre, com destaque para os últimos anos. O PIG tentou de todo jeito evitar a vitória de Lula em 2002. Não conseguiu. Tentou de todo modo impedir a vitória de Lula em 2006. Não conseguiu. O PIG espera sempre o suicídio, a renúncia ou a derrota de suas vítimas. É só olhar a história. Não houve isso com Lula. Muito ao contrário. Houve luta e afirmação da vida democrática, luta que contou com a participação decisiva do povo brasileiro.

No ano que passou, o PIG recorreu diversas vezes ao caldeirão fumegante de sua cozinha de requentamento. E tome-lhe Petrobras, e tome-lhe Lina Vieira, e tome-lhe Sarney, e tome-lhe derrotas. Nada tinha consistência. Eram pastéis de vento. Tudo caiu no vazio.

A oposição, a cada iniciativa do PIG, ia atrás, obedientemente, e perdia. Às vezes, conseguia os seus 15 minutos de fama, devidamente preparados pela própria mídia. Andy Warhol revisitado. E depois, bem, depois, tudo se mostrava sem base jornalística. Tudo que é falso desmancha no ar, poderíamos parafrasear Marshall Berman. Se o que é sólido desmancha no ar, imagine o que é falso.

O requentamento da mídia, sua fábrica incessante de escândalos sem qualquer base, continua a desmanchar-se no ar. Sua tentativa permanente de construir uma opinião pública contra Lula tem fracassado rotundamente. A opinião pública no Brasil vem ganhando autonomia, a cidadania brasileira hoje não se submete mais às tentativas constantes de manipulação.

Agora o PIG aponta o seu arsenal contra a candidatura da ministra Dilma. Planta notícias falsas, inventa currículos fantasiosos, esmera-se na mentira, requenta e requenta matérias à falta de fatos consistentes, verdadeiros. O PIG, no entanto, tem sido amplamente derrotado pelo povo brasileiro ultimamente. A oposição conta com o entusiasmo decidido desse PIG, em verdade o intelectual orgânico dos partidos de oposição, do PSDB e do DEM, que andam bastante desorientados.

Um escândalo aqui, outro acolá, surgido do caldeirão fumegante do PIG, é que dá à oposição a chance de respirar por 15 minutos, para logo depois sufocar novamente. Mas, insisto, o PIG não descansa. Nem o PIG nem o PCG, o Partido da Casa Grande, e aqui me refiro aos partidos que se rebelam contra as cotas, contra os negros, contra os pobres, contra os índios.

É, senhor presidente, o PIG não descansa. E nesse momento está seguindo religiosamente as diretrizes tiradas pelo Instituto Millenium, sobre o qual falaremos nesse pronunciamento.

Agora, além de requentar matérias antigas, que não mereceriam mais quaisquer suítes, resolveu filosofar. E não foi em alemão. É verdade que filósofos que fizeram opções de direita não constituem novidade na história. No entanto, eram bem melhores que aqueles que atualmente a mídia contrata, constrói ou requisita para tentar dar alguma substância ao delirante cenário que pretendem construir.

E querem construir o mesmo cenário anterior e quando me refiro a anterior, recuo um pouco no tempo, e lembro de leituras referentes ao Corvo como era chamado Carlos Lacerda. Lá atrás, com Getúlio, a UDN construiu um cenário em que tudo era corrupção, e a UDN era o próprio falso moralismo, sem qualquer autoridade para perorar sobre moral, e Lacerda aparecia como a sua grande vestal. Há hoje vários simulacros de Lacerda, inclusive na filosofia de que a mídia resolveu se valer agora.

Essa tentativa de filosofar para dar consistência ao PIG ganhou contornos concretos com a realização de seminário realizado pelo Instituto Milleninum, em São Paulo, no dia 1º de março deste ano, que custou R$500,00 a cada participante, juntou coisa de 180 pessoas, e contou com a participação de Otavinho (Otávio Frias Filho, do grupo Folhas), de Marinho (Roberto Irineu Marinho, da Globo) e, ainda, representantes da Rede Sul Brasil e do Estado de S. Paulo, entre outros. Em síntese, toda a direção central do PIG. Além de uma parte da intelectualidade de direita.

Os filósofos Roberto Romano e Denis Rosenfield quase recuperaram, talvez inconscientemente, e a modo deles, a abertura de um dos mais importantes manifestos da história e dos mais lidos do mundo, o Manifesto Comunista, de Marx. Romano, de modo especial, o conhece bem. Foi, quando dominicano, próximo da Ação Libertadora Nacional, dirigida pelo comandante Carlos Marighella, notável dirigente comunista. Ali, naquele momento, suspeita-se, Romano simpatizava com as idéias comunistas. Mudou.

Na abertura do Manifesto Comunista, o mais famoso manifesto da historia, Marx dizia que um espectro rondava a Europa, o espectro do comunismo. Os novos filósofos, de diversas maneiras, disseram, no seminário do Millenium, e o fizeram com palavras mais assustadoras, que um espectro ronda o Brasil, o espectro do bolchevismo, encarnado num PT de nítida tendência bolchevo-estalinista.

O Romano, não se sabe se recorrendo a Freud, se a Richard Sennet, se a Jung, chegou a dizer que militância causa corrosão de caráter isso mesmo, senhor presidente, corrosão de caráter. O partido de militantes, esse PT infernal, causa corrosão de caráter. Já não se fazem romanos como antigamente.

O militante, na visão originalíssima de Romano, só se reporta ao Chefe, abdicando de qualquer autonomia. Transforma-se num autômato, disposto a cumprir ordens, sem discuti-las. É o admirável mundo novo de Romano, quem sabe inspirado também em Aldous Huxley. Naturalmente, Romano fala do PT e de seus militantes. Fala de um PT imaginário, inspirado pelo bolchevismo-estalinismo, recuperado lá das profundezas da Revolução Russa e da tradição da III Internacional.

O PT, nessa visão romana, seria um partido essencialmente antidemocrático, que espera ansiosamente para dar o pulo do gato e acabar com a democracia e a liberdade de imprensa. Seria, para nos aproximarmos mais da América Latina, e foram tantos os oradores do Seminário do Millenium que disseram isso, um partido chavo-fidelista, partidário de Chávez e de Fidel, dos modelos venezuelano e cubano. Um partido, o nosso, sempre pronto a golpear as instituições democráticas. Anotem as sandices, pensem no quanto é delirante esse raciocínio político-filosófico.

Digo tudo isso, recupero tudo isso, senhor presidente, para mostrar o quanto as teorias romanas são caricatas, absurdas, indigentes, superficiais, movidas por um ódio de classe bastante transparente, do quanto o professor Romano foge da realidade do que seja o PT.
Do ponto de vista político, os participantes do seminário entoaram o samba de uma nota só. Contra Lula, contra o PT, contra Dilma. Contra Chávez. Contra Lula. Contra Rafael Correa.

Ali havia Arnaldo Jabor, também ex-comunista. Havia Reinaldo Azevedo. Havia Demétrio Magnoli. Havia Carlos Alberto Di Franco, do Estadão e da Opus Dei. E a fina flor da direita midiática latino-americana, como o âncora de televisão equatoriana, Carlos Vera (Ecuavisa), que chegou a dizer que o presidente Rafael Correa foi eleito por prostitutas, ou o dono da RCTV, que tentou o golpe contra Chávez em 2002, Marcel Granier. Era uma espécie de Internacional Latino-Americana do PIG.

O mérito desse encontro, e faço esforço para encontrar mérito, foi que entoaram o samba de uma nota só, romana e politizada, como já disse. Disseram todos, e claramente, que a mídia tem lado, que é contra Dilma, que éa favor de Serra.

Demétrio Magnoli disse que se o Serra ganhasse faríamos uma festa em termos de liberdades. Mas, confessou, a perspectiva é que a Dilma vença. Por ter uma avaliação da correlação de forças, é que esse seminário conclamou todos à luta.

Jabor foi claro: é preciso discutir como impedir politicamente o pensamento de uma velha esquerda que não deveria mais existir no mundo. Essa é a versão mais recente do que dissera o presidente do então PFL, Jorge Bornhausen, em 2005, que propugnara acabar com essa raça por 30 anos. Essa raça éramos nós, o PT. E por caprichos da história, ou por ironia, foi o PFL, em fase terminal, que teve de mudar de nome para DEM, que hoje ainda luta para sobreviver. Coisas do povo brasileiro, que sabe hoje distinguir quem é quem na vida política brasileira. Que tem maturidade para isso.

Para o PIG, que tem agora esse Instituto Millenium para ecoar o seu ponto de vista, que chama filósofos para tentar dar lastro ao seu pensamento, trata-se, na essência, de fazer política. Política de direita, para dizer o óbvio. Política para tentar evitar a vitória da ministra Dilma, que apavora o PIG neste momento, ao já empatar com o governador Serra. O PIG entrou de corpo e alma na campanha de Serra, como as evidências de quaisquer coberturas indicam. Como a construção fantasiosa de escândalos aponta. Logo depois da reunião do Millenium, a tropa perfilada do PIG subiu o tom e se dedicou a aplicar com rigor as diretrizes tiradas no encontro.

O PT e as forças democráticas não podem se iludir, não tem o direito de se iludir: a mídia hegemônica está em campanha e, insista-se, tem lado. Quanto à sua natureza partidária, digo isso há muito tempo. E o faço como jornalista e como professor de comunicação. O Seminário do Millenium não foi a senha para a abertura da campanha contra o PT, contra Lula, contra Dilma. Isso existe desde sempre. Ele apenas teve o mérito de deixar o rei nu. A campanha é feita pelo PIG cotidianamente, sem descanso.

O já folclórico Reinaldo Azevedo deixou o rei mais nu, e ainda mais obsceno. Segundo ele, é preciso acabar com essa pretensão à isenção, à imparcialidade, essa coisa de ouvir os dois lados. Só esqueceu de dizer que isso, para a mídia dominante, para o PIG, não existe há muito tempo. É só olhar para a matéria requentada da Veja sobre o tesoureiro do PT em que ela não ouve o João Vacari Neto uma única vez.

E a campanha é dura, sem critério, sem quaisquer cuidados. O Estadão, nos últimos dias, numa agressão falsa e despropositada, desrespeitosa, chama o PT de partido da bandidagem, numa estratégia clara de tentar desgastar o partido mais importante do Brasil, aquele mais bem avaliado pelo povo brasileiro em qualquer pesquisa. A mídia brasileira é das mais partidarizadas do mundo, insisto nisso, e ela tem sempre um lado claro, como tenho dito com absoluta freqüência.

O PIG, repita-se, tem lado, e é esse partido, contrariamente ao que diz o Instituto Millenium, que ameaça, e seriamente, a democracia no Brasil ao pretender-se a voz única da Nação e ao impedir, ou tentar sempre, a emergência de tantas outras vozes e interpretações da realidade brasileira, ao tentar sempre, quando seus interesses são contrariados, derrubar ou desestabilizar governos legitimados pelas urnas e que defendam os interesses populares.

A Conferência Nacional de Comunicação expressou tudo isso claramente e seria correto afirmar que os gatos pingados do Millenium tentaram ser um contraponto àquele fórum democrático, que reuniu mais de mil pessoas, todas eleitas, num processo que aglutinou milhares de brasileiros.

Volto a dizer: os ataques dos últimos dias estão seguindo as diretrizes tiradas durante o Seminário do Millenium, que orientou para a intensificação da campanha contra o governo Lula, contra o PT e contra a candidatura da ministra Dilma.

Devo, ao final, dar uma palavra sobre o meu partido, o PT, diante do festival de besteiras romanas e magnólias ditas pelos tantos participantes do Millenium. O PT, desde o seu alvorecer, desde o seu nascimento, colocou-se filosófica e politicamente como um partido democrático, postulando, como óbvio, transformações profundas na sociedade brasileira, mas insistindo que tais transformações deveriam se dar no leito da vida democrática, exclusivamente.

O PT nasceu como partido de massas, democrático, avesso a quaisquer ditaduras, com espaço amplo para os debates internos. Nunca teve nada a ver com centralismo democrático ou com ditadura do proletariado. Não pede licença para ser democrático e socialista. Para lutar pela democracia e pelo socialismo. Para não se render a uma mídia nitidamente golpista, contra a qual luta.

E chegou à presidência da República por ter conquistado os corações e mentes do povo brasileiro, num insistente e democrático trabalho de convencimento, fazendo política no amplo sentido da palavra.

Esse seminário do Millenium só reforça nossas convicções de que a luta pela democratização da comunicação no Brasil é essencial. Que não podemos nos conformar com o fato de que meia dúzia de famílias, alguns poucos monopólios, pretendam ser os intérpretes do Brasil, dispostos sempre ao golpe contra governantes legitimados pelas urnas quando estes não correspondam aos seus interesses. Foi assim com Vargas. Foi assim com Goulart. Tem sido assim com Lula. Será assim com Dilma.

O povo brasileiro, no entanto, especialmente nesses últimos tempos, tem sabido discernir perfeitamente o que é verdade e o que é mentira, o que é real e o que é manipulação. Não fosse assim, e Lula, como já o dissemos, não teria vencido por duas vezes. Agora, novamente, ancorados na sabedoria do nosso povo, na força do PT e dos partidos aliados, iremos fazer de Dilma nossa presidenta. Ela está pronta para conduzir o terceiro mandato desse extraordinário projeto emancipador, libertador, democrático e popular que estamos conduzindo no Brasil desde 2003.

Muito obrigado.

14 de março de 2010

A mídia e a Tempesdade no Deserto

Por Rodrigo Vianna

Mauro Carrara escreve sobre uma operação que, claramente, já está em curso.

Passado o Carnaval, os setores ligados aos tucanos - a grande mídia - se desesperaram. A sequência de notícias ruins para eles, desde o fim do ano passado, é impressionante: enchentes em São Paulo, Arruda preso, o DEM desmoralizado, o PSDB sem discurso diante da recuperação da economia. Para completar: Serra caiu e Dilma subiu nas pesquisas.

A oposição ao governo Lula bateu os tambores no convescote organizado pelo Instituto Millenium. Ao perceber que os partidos de oposição caminhavam para a anomia, os donos da mídia asumiram o controle da oposição. E as manchetes, capas e títulos distorcidos se avolumam.

É guerra. É a tempestade no deserto - como explica Mauro no texto abaixo..

Pesquisa IBOPE saiu a campo (coincidência, em se tratando do IBOPE?) na última semana, em meio à tempestade de manchetes anti-governistas. Resultado deve ser divulgado nos próximos dias, pela CNI.

Toda a esperança dos tucanos da mídia é que Serra tenha conseguido estancar a sangria dos votos. Aparentemente, não conseguiu. Há informações de que Dilma já aparece (numericamente) à frente de Serra, apesar de a situação (ainda) caracterizar empate técnico: leia sobre isso no site Vermelho.

Nos próximos meses, entraremos num ritmo frenético, parecido com o de 2005 - quando setores da mídia tentaram derubar Lula. Agora, sabem que não podem derrubá-lo. Mas bastaria a eles arranhar a imagem do PT, e vender a idéia de que "Lula a gente tolerou, mas Dilma - a terrorista - não vai chegar lá".

Ninguém pode ser ingênuo. Essa campanha está articulada a interesses internacionais. Não do núcleo do governo de Obama, mas de setores da extrema-direita dos EUA que seguem alojados na máquina de governo em Wasgington, e que assumiram a tarefa de barrar a "subversão" na América Latina. Essa gente da mídia no Brasil é articulada com o que há de mais reacionário nos EUA.

A guerra será violenta - como diz o Mauro Carrara, abaixo. Fiquem com o texto dele...

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Operação “Tempestade no Cerrado”: o que fazer?


por Mauro Carrara

(O PT é um partido sem mídia... O PSDB é uma mídia com partido).

“Tempestade no Cerrado”: é o apelido que ganhou nas redações a operação de bombardeio midiático sobre o governo Lula, deflagrada nesta primeira quinzena de Março, após o convescote promovido pelo Instituto Millenium.

A expressão é inspirada na operação “Tempestade no Deserto”, realizada em fevereiro de 1991, durante a 1Guerra do Golfo.

Liderada pelo general norte-americano Norman Schwarzkopf, a ação militar destruiu parcela significativa das forças iraquianas. Estima-se que 70 mil pessoas morreram em decorrência da ofensiva.

A ordem nas redações da Editora Abril, de O Globo, do Estadão e da Folha de S. Paulo (e outros jornais brasileiros ligado ao PiG) é disparar sem piedade, dia e noite, sem pausas, contra o presidente, contra Dilma Roussef e contra o Partido dos Trabalhadores.

A meta é produzir uma onda de fogo tão intensa que seja impossível ao governo responder pontualmente às denúncias e provocações.

As conversas tensas nos "aquários" do editores terminam com o repasse verbal da cartilha de ataque.

1) Manter permanentemente uma denúncia (qualquer que seja) contra o governo Lula nos portais informativos na Internet.

2) Produzir manchetes impactantes nas versões impressas. Utilizar fotos que ridicularizem o presidente e sua candidata.

3) Ressuscitar o caso “Mensalão”, de 2005, e explorá-lo ao máximo. Associar Lula a supostas arbitrariedades cometidas em Cuba, na Venezuela e no Irã.

4) Elevar o tom de voz nos editoriais.

5) Provocar o governo, de forma que qualquer reação possa ser qualificada como tentativa de “censura”.

6) Selecionar dados supostamente negativos na Economia e isolá-los do contexto.

7) Trabalhar os ataques de maneira coordenada com a militância paga dos partidos de direita e com a banda alugada das promotorias.

8) Utilizar ao máximo o poder de fogo dos articulistas.



Quem está por trás

Parte da estratégia tucano-midiática foi traçada por Drew Westen, norte-americano que se diz neurocientista e costuma prestar serviços de cunho eleitoral.

É autor do livro The Political Brain, que andou pela escrivaninha de José Serra no primeiro semestre do ano passado.

A tropicalização do projeto golpista vem sendo desenvolvida pelo “cientista político” Alberto Carlos Almeida, contratado a peso de ouro para formular diariamente a tática de combate ao governo.

Almeida escreveu Por que Lula? e A cabeça do brasileiro, livros que o governador de São Paulo afirma ter lido em suas madrugadas insones.


O conteúdo

As manchetes dos últimos dias, revelam a carga dos explosivos lançados sobre o território da esquerda.

Acusam Lula, por exemplo, de inaugurar uma obra inacabada e “vetada” pelo TCU.

Produzem alarde sobre a retração do PIB brasileiro em 2009.

Criam deturpações numéricas.

A Folha de S. Paulo, por exemplo, num espetacular malabarismo de ideias, tenta passar a impressão de que o projeto “Minha Casa, Minha Vida” está fadado ao fracasso.

Durante horas, seu portal na Internet afirmou que somente "0,6% das moradias previstas na meta tinham sido concluídas."

O jornal embaralha as informações para forjar a ideia de que havia alguma data definida para a entrega dos imóveis.

Na verdade, estipulou-se um número de moradias a serem financiadas, mas não um prazo para conclusão das obras. Vale lembrar que o governo é apenas parceiro num sistema tocado pela iniciativa privada.

A mesma Folha utilizou seu portal para afirmar que o preço dos alimentos tinha dobrado em um ano, ou seja, calculou uma inflação de 100% em 12 meses.

A leitura da matéria, porém, mostra algo totalmente diferente. Dobrou foi a taxa de inflação nos dois períodos pinçados pelo repórter, de 1,02% para 2,10%.

Além dos deturpadores de números, a Folha recorre aos colunistas do apocalipse e aos ratos da pena.

É o caso do repórter Kennedy Alencar. Esse, por incrível que pareça, chegou a fazer parte da assessoria de imprensa de Lula, nos anos 90.

Hoje, se utiliza da relação com petistas ingênuos e ex-petistas para obter informações privilegiadas. Obviamente, o material é sempre moldado e amplificado de forma a constituir uma nova denúncia.

É o caso da “bomba” requentada neste março. Segundo Kennedy Alencar, Lula vai “admitir” (em tom de confissão, logicamente) que foi avisado por Roberto Jefferson da existência do Mensalão.


Crimes anônimos na Internet

Todo o trabalho midiático diário é ecoado pelos hoaxes distribuídos no território virtual pelos exércitos contratados pelos dois partidos conservadores.

Três deles merecem destaque...

1) O “Bolsa Bandido”. Refere-se a uma lei aprovada na Constituição de 1988 e regulamentada pela última vez durante o governo de FHC. Esses fatos são, evidentemente, omitidos. O auxílio aos familiares de apenados é atribuído a Lula. Para completar, distorce-se a regra para a concessão do benefício.

2) Dilma “terrorista”. Segundo esse hoax, além de assaltar bancos, a candidata do PT teria prazer em torturar e matar pacatos pais de família. A versão mais recente do texto agrega a seguinte informação: “Dilma agia como garota de programa nos acampamentos dos terroristas”.

3) O filho encrenqueiro. De acordo com a narração, um dos filhos de Lula teria xingado e agredido indefesas famílias de classe média numa apresentação do Cirque du Soleil.


O que fazer

Sabe-se da incapacidade dos comunicadores oficiais. Como vivem cercados de outros governistas, jamais sentem a ameaça. Pensam com o umbigo.

Raramente respondem à injúria, à difamação e à calúnia. Quando o fazem, são lentos, pouco enfáticos e frequentemente confusos.

Por conta dessa realidade, faz-se necessário que cada mente honesta e articulada ofereça sua contribuição à defesa da democracia e da verdade.

São cinco as tarefas imediatas...

1) Cada cidadão deve estabelecer uma rede com um mínimo de 50 contatos e, por meio deles, distribuir as versões limpas dos fatos. Nesse grupo, não adianda incluir outros engajados. É preciso que essas mensagens sejam enviadas à Tia Gertrudes, ao dentista, ao dono da padaria, à cabeleireira, ao amigo peladeiro de fim de semana. Não o entupa de informação. Envie apenas o básico, de vez em quando, contextualizando os fatos.

2) Escreva diariamente nos espaços midiáticos públicos. É o caso das áreas de comentários da Folha, do Estadão, de O Globo e de Veja. Faça isso diariamente. Não precisa escrever muito. Seja claro, destaque o essencial da calúnia e da distorção. Proceda da mesma maneira nas comunidades virtuais, como Facebook e Orkut. Mas não adianta postar somente nas comunidades de política. Faça isso, sem alarde e fanatismo, nas comunidades de artes, comportamento, futebol, etc. Tome cuidado para não desagradar os outros participantes com seu proselitismo. Seja elegante e sutil.

3) Converse com as pessoas sobre a deturpação midiática. No ponto de ônibus, na padaria, na banca de jornal. Parta sempre de uma concordância com o interlocutor, validando suas queixas e motivos, para em seguida apresentar a outra versão dos fatos.

4) Em caso de matérias com graves deturpações, escreva diretamente para a redação do veículo, especialmente para o ombudsman e ouvidores. Repasse aos amigos sua bronca.

5) Se você escreve, um pouquinho que seja, crie um blog. É mais fácil do que você pensa. Cole lá as informações limpas colhidas em bons sites, como aqueles de Azenha, PHA, Grupo Beatrice, entre outros. Mesmo que pouca gente o leia, vai fazer volume nas indicações dos motores de busca, como o Google. Monte agora o seu.

A guerra começou. Não seja um desertor.

11 de março de 2010

A miséria moral dos ex-esquerdistas


Por Emir Sader, Carta Maior

Alguns sentem satisfação quando alguém que foi de esquerda salta o muro, muda de campo e se torna de direita – como se dissessem: “Eu sabia, você nunca me enganou”, etc., etc. Outros sentem tristeza, pelo triste espetáculo de quem joga fora, com os valores, sua própria dignidade – em troca de um emprego, de um reconhecimento, de um espaçozinho na televisão.

O certo é que nos acostumamos a que grande parte dos direitistas de hoje tenham sido de esquerda ontem. O caminho inverso é muito menos comum. A direita sabe recompensar os que aderem a seus ideais – e salários. A adesão à esquerda costuma ser pelo convencimento dos seus ideais.

O ex-esquerdista ataca com especial fúria a esquerda, como quem ataca a si mesmo, a seu próprio passado. Não apenas renega as idéias que nortearam – às vezes o melhor período da sua vida -, mas precisa mostrar, o tempo todo, à direita e a todos os seus poderes, que odeia de tal maneira a esquerda, que já nunca mais recairá naquele “veneno” que o tinha viciado. Que agora podem contar com ele, na primeira fila, para combater o que ele foi, com um empenho de quem “conheceu o monstro por dentro”, sabe seu efeito corrosivo e se mostra combatente extremista contra a esquerda.

Não discute as idéias que teve ou as que outros têm. Não basta. Senão seria tratar interpretações possíveis, às quais aderiu e já não adere. Não. Precisa chamar a atenção dos incautos sobre a dependência que geram a “dialética”, a “luta de classes”, a promessa de uma “sociedade de igualdade, sem classes e sem Estado”. Denunciar, denunciar qualquer indicio de que o vício pode voltar, que qualquer vacilação em relação a temas aparentemente ingênuos, banais, corriqueiros, como as políticas de cotas nas universidades, uma política habitacional, o apoio a um presidente legalmente eleito de um país, podem esconder o veneno da víbora do “socialismo”, do “totalitarismo”, do “stalinismo”.

Viraram pobres diabos, que vagam pelos espaços que os Marinhos (Globo), os Civitas (Veja/Abril), os Frias (Folha de SP), os Mesquitas (O Estado de SP) lhes emprestam, para exibir seu passado de pecado, de devassidão moral, agora superado pela conduta de vigilantes escoteiros da direita. A redação de jornais, revistas, rádios e televisões está cheia de ex-trotskistas, de ex-comunistas, de ex-socialistas, de ex-esquerdistas arrependidos, usufruindo de espaços e salários, mostrando reiteradamente seu arrependimento, em um espetáculo moral deprimente.

Aderem à direita com a fúria dos desesperados, dos que defendem teses mais que nunca superadas, derrotadas, e daí o desespero. Atacam o governo Lula, o PT, como se fossem a reencarnação do bolchevismo, descobrem em cada ação estatal o “totalitarismo”, em cada política social a “mão corruptora do Estado”, do “chavismo”, do “populismo”.

Vagam, de entrevista a artigo, de blog à mesa redonda, expiando seu passado, aderidos com o mesmo ímpeto que um dia tiveram para atacar o capitalismo, agora para defender a “democracia” contra os seus detratores. Escrevem livros de denúncia, com suposto tempero acadêmico, em editoras de direita, gritam aos quatro ventos que o “perigo comunista” – sem o qual não seriam nada – está vivo, escondido detrás do PAC, do Minha casa, minha vida, da Conferência Nacional de Comunicação, da Dilma – “uma vez terrorista, sempre terrorista”.

Merecem nosso desprezo, nem sequer nossa comiseração, porque sabem o que fazem – e os salários no fim do mês não nos deixam mentir, alimentam suas mentiras – e ganham com isso. Saíram das bibliotecas, das salas de aula, das manifestações e panfletagens, para espaços na mídia, para abraços da direita, de empresários, de próceres da ditadura.

Vagam como almas penadas em órgãos de imprensa que se esfarelam, que vivem seus últimos sopros de vida, com os quais serão enterrados, sem pena, nem glória, esquecidos como serviçais do poder, a que foram reduzidos por sua subserviência aos que crêem que ainda mandam e seguirão mandado no mundo contra o qual, um dia, se rebelaram e pelo que agora pagam rastejando junto ao que de pior possui uma elite decadente e em vésperas de ser derrotada por muito tempo. Morrerão com ela, destino que escolheram em troca de pequenas glórias efêmeras e de uns tostões furados pela sua miséria moral. O povo nem sabe que existiram, embora participe ativamente do seu enterro.

PHA: “Os jornais são um lixo”

Entrevista com Paulo Henrique Amorim

Por Edgar Olimpio de Souza

Sua trajetória profissional daria um livro. Ele acompanhou a movimentação do subcomandante Marcos nas selvas mexicanas, reportou a violenta guerra civil em Ruanda, assinou matérias sobre o terrível vírus Ebola e cobriu o assassinato do megatraficante colombiano Pablo Escobar. Ex-correspondente no Exterior e com passagem pelos principais veículos de comunicação brasileiros, o jornalista Paulo Henrique Amorim, 68 anos, pilota o Domingo Espetacular, a revista eletrônica da Record que concorre contra o Fantástico, da Globo, e mantém o acessadíssimo site Conversa Afiada, referência de jornalismo independente. “Se eu não chutasse o balde agora, eu acabaria não chutando nunca mais”.

Nesta entrevista, acionando sua habitual irreverência e língua ferina, PHA atira para todos os lados. Desanca a mídia que chama de golpista, detona a nova geração de jornalistas, aposta que o personagem do Vesgo, do Pânico, tem mais chances que o Serra na corrida presidencial e ironiza os quinze anos do governo tucano em São Paulo. “A única obra que eles têm para mostrar é o rouboanel, cuja peculiaridade é cair”. Não bastasse, ainda desmonta o mito Paulo Francis, que ganhou recente documentário no cinema. “Era um péssimo colega, ocioso, que tinha horror de ser brasileiro.”

O jornalismo perdeu relevância?

Jamais perderá porque é um instrumento pelo qual as pessoas se informam. Tem função essencial numa democracia. Thomas Jefferson dizia que não poderia haver uma democracia sem imprensa. O que está acontecendo é uma acelerada decadência, sobretudo no Brasil, da imprensa escrita, que foi durante muito tempo o padrão e o referencial do jornalismo.

A informação chega até nós ou temos de aprender a procurá-la?

Funciona como num supermercado, que oferece um milhão de opções. Aí você escolhe o produto por preço, qualidade, experiência. Se você visitar o site Conversa Afiada, que eu tenho a honra de dirigir há quatro anos, você sabe o que esperar dele. Diz coisas muito parecidas, com coerência indiscutível. Então, se você vai comprar aquela marca de biscoito é porque você conhece o fabricante, gosta do preço, da embalagem, do sabor. Você não fica nervoso ou preocupado porque existem outras cem marcas de biscoitos na gôndola.

Mas a informação que chega é de qualidade?

No Brasil é de baixíssima qualidade, parcial, deturpada e insuficiente. Os jornais impressos ainda determinam boa parte da agenda das outras mídias e da agenda política do país. O professor Wanderley Guilherme dos Santos, notável professor de Ciência Política do Rio de Janeiro, disse que o poder da mídia impressa é o poder de gerar crises. Para mim ela é golpista, desde que conseguiu matar Getúlio Vargas ou contribuiu para ele se matar em 1954. Ela até deu um golpe em 1964, quando entrou no Palácio do Planalto com as botas dos militares na deposição do presidente João Goulart. Se você pegar a imprensa argentina, tão conservadora quanto a brasileira, notará a diferença. O Clarín, o La Nacion, o Página 13 são publicações bem melhores. Os jornais brasileiros são um lixo.

Os jornalistas de hoje são mais preparados?

Claro que não. Eles dizem aquilo que os patrões queriam que eles dissessem e eles dão a entender que dizem aquilo como se fossem as suas próprias idéias. As redações de jornal são hoje ocupadas por mauricinhos, meninos de classe média, filhinhos de pai rico, tudo branco, cheirosinhos, que nunca viram pobre na vida e não têm nenhum compromisso com a sociedade brasileira.

Como você vê o futuro do jornalismo?

Brilhante, porque será independente da imprensa escrita. A sociedade está se educando, entrou para o PROUNI, tem acesso à banda larga, lê mais livros. Tudo isso demanda mais informação, que pode vir pela tevê, rádio, revista, celular, internet, redes sociais, até de carrinho de mão. Não estaremos mais à mercê das famílias Marinho, Frias, Civita e o que sobrou dos Mesquitas, que condicionavam e condicionaram durante muito tempo a opinião pública brasileira. Eles são uma praga, um rotavírus.


Acha que a mídia impressa brasileira age como um partido político de oposição?

Desde 2002 o objetivo da imprensa brasileira tem sido o de derrubar o presidente Lula. E não conseguiram porque o Lula é melhor que todos eles. O presidente pega o Globo, a Veja, a Folha e o Estadão, mistura tudo, põe no liquidificador e toma com suco de laranja.

Na sua opinião, por que a grande mídia teria implicância com o governo Lula?

É uma oposição histórica entre a imprensa escrita brasileira e o trabalhismo. Começou com Getúlio Vargas, depois Jango, Brizola e agora Lula. A diferença é que nesse intervalo de tempo houve uma concentração geral de mídia. Por isso criei a expressão PIG - Partido da Imprensa Golpista. A imprensa no Brasil é uma ameaça à sobrevivência das instituições democráticas, à democracia brasileira. Antes eu chamava a Folha, o Estadão, o Globo, a Veja e a Rede Globo de Televisão de mídia conservadora e golpista. Mas era uma expressão rebuscada. PIG é melhor.

A grande mídia estaria definhando...

De forma melancólica. A Veja, a última flor do fascio, foi entregue a salteadores. Na Globo, o diretor de jornalismo Ali Kamel comporta-se como o inquisidor-geral Torquemada. Já a Folha é dirigida por um direitista enrustido que não tem a hombridade política de assumir suas posições políticas, que escreve de maneira inacessível e muita chata sobre assuntos irrelevantes e de forma irrelevante, que pensa ser um grande intelectual. Ele faz parte desse conjunto que eu denomino de deidades provinciais. Um dos bustos da província de São Paulo é o do Otavinho. Tem também o do Daniel Piza, que enforcou Jesus Cristo. Tem ainda o busto do publicitário Luiz Gonzáles, que faz a campanha do Serra e é um gênio. Ele fez a campanha do Alckmin em 2006, que entrou para a história da política universal porque no segundo turno o Alckmin conseguiu menos votos que no primeiro.

Faltou falar do Estadão...

Ao menos tem mais coerência e é tão moderno quanto os donos do café do século 19. Se você gosta de acompanhar o pensamento escravocrata daquela época basta ler o Estadão. É um jornal que está preocupado com a tomada do palácio de inverno de São Petersburgo no século 19 e com as ocupações do MST.

Você que trabalhou na Globo não estaria cuspindo no prato que comeu?

Na evolução da humanidade mudamos do regime da escravidão para o regime capitalista. No primeiro, o trabalhador era escravo do dono. No segundo, passou a ser assim: o dono me paga para eu trabalhar para ele, em troca de remuneração. Quando eu não quero mais trabalhar para ele, vou embora trabalhar para outro. E se ele não me quer mais, me manda embora e contrata outro. Por que tinha de trabalhar lá a vida inteira? Quem disse que a Globo é um bom emprego? É uma prisão de segurança máxima. Ou você diz aquilo que o patrão quer ou é fuzilado.

Por que o Lula não enfrenta o PIG?

Ele não peitou a grande mídia, cometeu um erro estratégico, considerou que poderia dar um nó no PIG, embora tenha até conseguido porque o PIG está desencontrado, vive de fabricar uma crise falsa por dia. Ele deveria ter criado mecanismos institucionais para oferecer alternativas ao PIG, que não é a TV Brasil. Não importa que Lula levasse pau, qual o problema? O Brizola era tratado pela Rede Globo como se fosse um cão sarnento e ganhou duas eleições para governador do Rio de Janeiro. O Kirchner foi eleito na Argentina alvejado pela mídia local e a mulher dele depois se elegeu sem dar uma única entrevista. Lula perdeu a chance de criar mecanismos para que a sociedade brasileira tenha informação de forma democrática, plural e isenta.

Ele teria se curvado ao poder da Rede Globo...

Quando trabalhei na Rede Globo, era proibido ter o som de Lula, ouvir a sua voz. Se ele falasse javanês ou sânscrito, a sociedade brasileira não saberia, só se mostrava a sua imagem. Aí teve o famoso debate Lula x Collor, em 1989, quando a Globo entrou para a antologia da manipulação política através da televisão. Então ele se elege em 2002, num domingo, e dá entrevista exclusiva para o Pedro Bial. No dia seguinte, ancora o Jornal Nacional ao lado da Fátima Bernardes e do William Bonner.

O PIG é tucano?

É porta-voz dos interesses da elite brasileira. Uma parte da sociedade brasileira tem dificuldades em admitir que exista uma alternativa política que não seja a que sempre nos governou. O símbolo dessa elite preconceituosa é o governador paulista José Serra. Ele é candidato a presidência da República, ex-ministro da Saúde, ex-ministro do Planejamento, ex-secretário do Planejamento, ex-deputado federal, ex-senador da República. Dê uma idéia gerada por ele. O que o Serra pensa? É um conjunto em branco, uma nulidade. Aliás, é inacreditável que os tucanos de São Paulo se elejam aqui. O PIG paulista vende ao Brasil a idéia de que São Paulo é a Chuiça brasileira: tem o dinamismo econômico da China e o IDH da Suíça.

O paulista é enganado?

E não percebe. Os tucanos governam o Estado há quinze anos e a única obra que construíram foi o rodoanel, mais conhecido como rouboanel, que tem como peculiaridade cair. O Alckmin, quando governador, represou o rio Tietê e disse que nunca mais haveria enchentes em São Paulo. No dia em que o PCC governou a cidade de São Paulo por dois dias, ele disse que o governador era o Cláudio Lembo. São Paulo abriga mais pobres que o Rio de Janeiro e os tucanos passaram quinze anos fingindo que não os viam. Aí, quando desabaram as chuvas, a pobreza se afogou e eles se deram conta de que eles existem.

Mas a pobreza não é igual em todos os lugares?

A pobreza em São Paulo está confinada em Sowetos. Você é capaz de morar no Morumbi, trabalhar na Rua Augusta e nunca ver um pobre. No Rio de Janeiro a pobreza invade a sua janela. Os tucanos acham que o pobre de São Paulo tem a mania de morar em barranco, em áreas de risco, quando podiam viver no Morumbi, nos Jardins e na Vila Nova Conceição.

FHC deixou alguma herança positiva?

Os oito anos de reinado de FHC compuseram a ditadura do pensamento único. Como se sabe, ele era portador do conhecimento universal, foi ele quem descobriu a Lei da Gravidade. Um dia ele estava sentado em Higienópolis, debaixo de uma macieira, e aí caiu uma maçã na cabeça dele. Pronto, ele inventou a Lei da Gravidade. Ele é o Farol de Alexandria. O FHC fez tudo o que queria. O resultado foi um período governamental de trevas, que associou a mediocridade à inação.

Quem vai ganhar as eleições presidenciais?

Não sei. Se o Serra se candidatar, o Vesgo, do Pânico, tem mais chances. Mas duvido que ele saia candidato. O Serra não irá correr o risco de ceder o governo paulista ao vice Albert Goldman e deixar que seja eleito em São Paulo um candidato de oposição, como é provável que aconteça. Ou entregar ao Geraldo Alckmin, que quer ver o diabo na frente, mas não quer ver o Serra. Se o Alckmin ganha o Palácio dos Bandeirantes, não vai nem servir café para ele. Também acho que será uma campanha entre Lula e FHC. A oposição está querendo sepultar o FHC, enfiá-lo naqueles esgotos que têm no Jardim Romano. Se pudesse, o PSDB o seqüestrava e o mandava para o Haiti. O Lula vai pendurar o FHC no candidato da oposição, quem quer que seja o adversário da Dilma.

A Marina Silva pode ser uma terceira via?

Quem? Qual? Ela é uma traíra, foi ministra do Lula durante sete anos, saiu e agora fica criticando o governo. Faz parte do mesmo grupo de traidores a que pertence o senador Cristóvão Buarque. A Marina engrossou a comunidade de traíras.

No site Conversa Afiada você fala tudo o que pensa?

Cada vírgula minha tem uma mira, nada ali é gratuito, digo o que estou com vontade de dizer. Acho que consegui, debaixo de muita porrada, preservar esse espaço. Conhece a história do Rubem Braga? Era colunista da revista Manchete. Um dia ele foi pedir aumento ao Adolfo Bloch, que respondeu: ´Você escreve isso aí em meia hora´. Aí o Rubem rebateu: ´Eu escrevo isso aí em quarenta anos e meia hora´. Eu tenho essa liberdade porque estou na estrada há cinco décadas. Entrei numa redação de jornal aos 17 anos, estudante de colégio, para ser foca na renúncia do Jânio Quadros. Estou lutando para ter minha independência desde 1961. Se eu não chutasse o balde agora, não chutaria nunca mais.

Viu o documentário sobre Paulo Francis?

Não vi e não gostei. Eu o lia na época em que ele era trotskista, apoiava o Jango e chamava o Carlos Lacerda de matador de mendigos. Depois, ele caiu no colo da direita e morreu abraçado no regaço do fascismo. Convivi com ele no escritório da Globo em Nova York. Era uma convivência deplorável, um péssimo colega, ocioso, tinha horror do Brasil, vergonha de ser brasileiro, queria ser americano embora falasse inglês como um escolar da Nigéria. Estou achando interessante. Recuperaram o Wilson Simonal e o Paulo Francis, a próxima obra do documentarismo brasileiro será resgatar o coronel Ulstra, que será transformado no novo Duque de Caxias.

Qual foi o seu maior furo de reportagem?

Fiz um Globo Repórter inteiro sobre os ursos polares da ilha de Kodiac, no sul do Alasca, ameaçados de extinção. Eu estava acompanhado de um guarda florestal e cheguei a poucos metros de distância deles. Há dois anos cobri para o Domingo Espetacular um tiroteio na favela da Mangueira. Era sobre o desmonte de um muro que os traficantes haviam construído no alto do morro, com aberturas estratégicas para disparar contra a polícia. Só subi porque tinha a garantia da polícia que estava tudo sobre controle. Mas qando cheguei lá, choveram tiros.

E a maior lambança?

Quando eu era correspondente da Veja em Nova York, em 1968, fui cobrir a campanha a prefeito do escritor Norman Mailer. Eu estava acompanhado do escritor Fernando Sabino, que ia escrever crônicas para o Jornal do Brasil. Fomos ao escritório do candidato e sua assessoria sugeriu que acompanhássemos uma carreata que sairia na manhã seguinte, que disponibilizariam vaga para nós num dos carros. Às seis da madrugada estávamos a postos em frente à casa de Mailer, no Brooklyn, em pleno inverno novaiorquino. De repente começou a sair gente da residência dele e logo lotaram os automóveis. Vimos que não tinha sobrado lugar para nós. Aí passou aquele camarada da assessoria de imprensa gritando: ´Sigam a gente´. Ficamos ali, feito dois imbecis. Fomos a uma cafeteria. Ao menos o papo com Sabino foi muito agradável.

De onde vem o humor e a língua solta?

Sou carioca.