4 de maio de 2009

Entranhas da "Elite"

Achei interessante postar aqui um artigo escrito em fevereiro desse ano pelo Eduardo Guimarães em seu blog Cidadania.com

Demonstra bem o quanto racista, preconceituosa e, principalmente, ignorante e proviciana é a "elite" (ou "as zelite") nacional. Aquela que olha para qualquer outra pessoa fora do seu circuito com enorme desprezo. Aquela que vota em Gilberto Kassab, José Serra e acha que o Fernando Henrique Cardoso é o maior intelectual brasileiro de todos os tempos.

Antes, porém, gostaria de esclarecer aos que lêem isto, que "elite" no Brasil é uma palavra mal-empregada e que, simplificando, ELITE é mais usada para designar um conjunto de pessoas (e produtos) de mais alto valor humano, intelectual ou qualitativo, no caso de produtos.

No Brasil, "elite"
(ou "as zelite") significa mais aqueles ricos que moram nos condomínios hiper-luxuosos das maiores cidades brasileiras, atores de novelas e por aí vai.


Paulo Henrique Amorim (link da matéria ao lado) costuma chamá-la de "Chuíça: uma combinação do dinamismo econômico da China com o IDH da Suíça".

-----------------------------------------------------
ELITE PODRE
Por Eduardo Guimarães 10/02/2009 às 09:44

Quatro mulheres da burguesia paulistana, esposas de investidores financeiros se reúnem em um bar em São Paulo e contam ao repórter Paulo Sampaio os efeitos da quebradeira internacional em seu relacionamento conjugal

Foi muito bom a Folha ter exposto, na coluna deste domingo (08 de fevereiro) de Mônica Bergamo, as entranhas desse mundinho hipócrita, consumista, fútil e preconceituoso em que chafurda a tão decantada "elite branca" paulistana.

Seus medos patéticos, seu tratamento vulgar do amor e do sexo, seus preconceitos ao chamar descendentes de negros de "baianos", esse apego patologicamente egoísta e insano aos bens materiais e às aparências formam a imagem que essa gente não vê no espelho.

Aplaudo efusivamente essa matéria da Folha porque deixou claríssimo como esse estrato social parasita é patético e exclusivamente dependente de (muito) dinheiro para ser feliz.

As esposas e namoradas desses golden boys da globalização, ora tão depressivos por verem todos os paradigmas nos quais acreditaram toda vida desmoronarem como castelo de cartas, mostram que estão à altura deles e que lhes constituem o merecido castigo.

*
Folha de São Paulo, - Caderno Ilustrada - Mônica Bergamo

Crise? Credo!

Elas contam que "foi difícil". A empresária e profissional de marketing Mariana Campos Barbosa Lima, 34, diz que seu marido "head trader" (consultor financeiro) ficou "mudo". O da joalheira Lyna Carbone Jenner, 30, um investidor do ramo imobiliário, passou a tomar antiácido. O namorado da consultora Ana Carolina Almeida, 29, captador de recursos para crédito externo, parou de mandar a "flor mensal". O da estilista Fernanda Almeida, 29, um corretor de títulos de valores mobiliários, repetia: "Você não sabe como eu tô pobre". Em Nova York, a crise econômica levou mulheres de financistas de Wall Street a criar o Daba ("Dating a Banker Anonymous", ou "Namoradas de Banqueiros Anônimas"), um grupo de apoio mútuo às desoladas garotas (leia box).

FOLHA - Como seus maridos e namorados reagiram à crise?

MARIANA BARBOSA - O meu [marido], que fala pelos cotovelos, ficou mudo.

ANA CAROLINA ALMEIDA - O Cris dormia e acordava com a TV na Bloomberg [canal inglês que transmite as variações do mercado internacional]. Começou a tomar remedinho pra dormir, apareceram alguns cabelos brancos.

MARIANA - No Marcelo, teve um agravante: ele perdeu o ânimo. A gente parou de sair. E meu marido é "o incluído social". São três almoços todo sábado. Não que eu não goste de ir, mas a gente vai por algo além do prazer. Ele acha que precisa.

FOLHA - A crise levou a cortar gastos domésticos?

MARIANA - Temos uma regra em casa. Tudo pode faltar, menos a babá.

FOLHA - Houve mudança no tratamento deles com os outros?

ANA - O Cris perdeu aquela alegria. Nas férias, a gente viajou pra dentro do Brasil. Foi um lugarzinho bárbaro, em Santa Catarina. Era mais pra não gastar dinheiro.

MARIANA - Pra não gastar em dólar, né, Aninha?

FOLHA - E o assunto entre eles?

ANA - Os homens se uniram.

MARIANA - O Marcelo nunca foi de entrar em casa falando ao telefone, mas ele simplesmente não esgotava o assunto.

FOLHA - E o humor?

ANA - De primeiro, o Cris até ficou irritado; depois, carente.

FERNANDA ALMEIDA - O meu caso era completamente diferente de tudo o que eu tô ouvindo. Pelo menos em casa, ele dizia: "Vamos evitar esse assunto".

TODAS - Nossa, que maravilha!

MARIANA - Amigas, nossas histórias são café pequeno perto de outras. Tenho uma conhecida que a vida do marido acabou. Ele perdeu dinheiro aplicado da família inteira. Da irmã milionária, do irmão triliardário. Esse cara é mais velho, quase 50, daquela fase que os nossos meninos não pegaram, em que um cara, com 30 anos, já tinha feito US$ 2 milhões.

FOLHA - Mas hoje ainda existe esse negócio de conquistar o primeiro milhão?

MARIANA - Ôpa! A coisa mais comum nesse meio é ouvir: "Como assim, você vai ter um filho antes de fazer o primeiro milhão de dólares?".

FERNANDA - [Séria] É uma ideia muito idiota!

AS OUTRAS - É, mas existe!

MARIANA - Eles falam sério! Te chamam de irresponsável.

FOLHA - E eles têm esse dinheiro?

MARIANA - Têm...têm, têm.

FERNANDA - Mas quem inventou isso? Você faz parte de qual porcentagem do PIB nacional?

MARIANA E ANA - Não, Fernanda, isso é conversa de roda no mercado financeiro.

LYNA JENNER- É papo de menino. É o equivalente a: "Como você não tem uma enfermeira, só uma babá?".

FOLHA - Costuma-se dizer que o investidor do mercado financeiro valoriza o status proporcionado pelo que é caro.

TODAS - Ôpa, sem dúvida!

MARIANA - O carro, o relógio, o sapato.

ANA - Principalmente o carro.

FOLHA - Qual o carro do Cris?

ANA - [Rindo] Ele comprou um Freelander [Land Rover].

LYNA - O Cris [são dois com o mesmo nome] é bem consumista. Sapato, roupa... o carro é uma BM[W].

MARIANA - Quando eu comecei a namorar o Marcelo, achava que ele era milionário. Eu nasci bem, morei em Nova York, mas, mesmo assim, ele me impressionou. Pensei: "Que sorte encontrar um cara lindo, rico...". Ele morava sozinho em um apartamento enorme, de quatro quartos, na Vila Nova Conceição, e era chiquérrimo nos detalhes: na abotoadura, no bico do sapato. Ele sempre diz: "Para alguém colocar o dinheiro comigo, tem que acreditar que eu sou muito rico, muito próspero".

FOLHA - A crise mudou isso?

LYNA - O que mudou foram os planos de comprar uma casa no campo, fazer uma megaviagem pra St. Barths, pra Europa.

FOLHA - Parece mais frustrante ainda para quem costuma planejar o que vai fazer com o dinheiro que ainda não ganhou.

LYNA - A vida continua.

FOLHA - Fora ganhar dinheiro, do que os rapazes gostam?

ANA - O Cris ama vinho. Tem duas adegas, que deram uma boa esvaziada. E, no auge, ele não repôs. Só agora, recentemente.

FOLHA - Como é a casa de um investidor como o Cris?

ANA - Ele mora em um apartamento de homem, no Morumbi. São três quartos, mas ele quebrou um com a sala e tem um escritório.

FOLHA - Fernanda falou pouco...

FERNANDA - Meu namorado não segue esse estereótipo, sapato, relógio. Ele se mudou agora para um apartamento melhor, comprou jipe.

FOLHA - Que jipe?

FERNANDA - Acho que é Santa Cruz... [com expressão de quem pede socorro] ou Veracruz?

MARIANA - Tem os dois.

FERNANDA - Veracruz, então. LYNA - Mais de R$ 100 mil.

FOLHA - O.k., mas como foi então que ele sentiu a perda de dinheiro?

FERNANDA - Ele dizia: "Você não sabe como eu tô pobre!". Eu o animava. Outro dia fomos comer num japonês que é mais carinho e vivia lotado, estava vazio. Mas a gente tava lá.

FOLHA - Ele não é consumista?

FERNANDA - Não, gasta com vinho e comida.

MARIANA - É que o mercado financeiro tem as miniturmas. A do polo, a do golfe...

FOLHA - Você conhece a "miniturma do polo"?

MARIANA - 90% do mercado financeiro faz polo. Na crise, meu marido não jogou nenhuma vez. Custa uma fortuna. Tem que ter sete cavalos. Então, nessas sutilezas é que você sente a crise.

FOLHA - Os especialistas dizem que é comum haver problema sexual em homens que enfrentam crises.

TODAS - Siiiiim [mas ninguém diz que aconteceu consigo].

LYNA - Eu estava de resguardo.

ANA - Eu só vejo o Cris no fim de semana, então não mudou.

FOLHA - Uma amante faz parte do arsenal de status do investidor?

FERNANDA - Claro, de todos. ANA - Eu não penso nisso. MARIANA - Não é coisa de investidor, é de homem.

FOLHA - Recentemente, entrevistei um psicanalista que acredita que os investidores escolhem suas mulheres pensando mais em fazer uma dupla social boa do que no amor.

MARIANA - Rola isso, sim. É até feio falar, mas a ex-namorada do Marcelo era uma "baianinha". Tenho certeza de que o fato de eu ter morado no mundo inteiro, falar línguas, conhecer pessoas o levou a pensar: "Vou ficar com esse fim de mundo [a "baianinha"] ou fazer essa troca?". E me escolheu.

ANA - O Cris tem pavor de mulher feia. Gorda? Não pode ver.

FOLHA - Como enfrentar a crise?

MARIANA - Quando a gente pensava em abrir um vinho de preço exorbitante, o Marcelo dizia: "Não vamos abrir esse, não. Vai que a gente precise vender...".

Todas riem muito.

ANA - É cada coisa louca. A gente ficava imaginando vender o carro e ter que andar num "Unozinho", sei lá, vender a casa, sabe quando você começa a pensar? Vender a mãe pra recuperar o que eu perdi e investir...

Fonte: http://edu.guim.blog.uol.com.br/arch2009-02-08_2009-02-14.html

-----------------------------------------------------

Elite brasileira...

Nenhum comentário: